quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sinfonoise Distro lança Revista BH Caos Magazine

Essa semana foi lançada em Belo Horizonte a revista BH Caos Magazine, produzida pelo Cleuber Toskko, do Sinfonoise Distro Records. A revista surge com o objetivo de divulgar, de forma mais direta, as bandas do underground brasileiro. Então é uma ótima pedida para quem tem banda, produtores de eventos e público em geral que habitam o subterrâneo poder conhecer um pouco mais sobre a cena. E para sabermos mais sobre esse projeto, conversei com o Cleuber, se liguem aí!!
Cleuber Toskko e a primeira edição da BH Caos Magazine

De onde veio a idéia de lançar uma revista sobre a cena underground brasileira?
Cleuber Toskko: Conversa dos toscos (risos). Então, a ideia surgiu na falta que eu sinto de uma revista especializada no Brasil voltada apenas para a cena underground, sem os mainstrean’s, só o underground, como eram a maioria dos fanzines antigamente. Em nossa cena temos grandes bandas, selos e produtores, pessoas que dão duro pra caramba e que merecem reconhecimento por seus trabalhos, mas na ‘‘grande imprensa do rock’’, nem sempre essas pessoas tiveram espaço e o reconhecimento que merecem. Nossa cena está mais viva do que nunca, bandas antigas voltando, várias bandas e produtores novos na ativa, muitos shows e festivais acontecendo, então a BHCaos Megazine vem pra apoiar e reforçar essa galera que rala de verdade em prol da cena, vem pra noticiar o que anda acontecendo na cena underground nacional. Por não termos uma mídia especializada na cena, acabamos não sabendo o que acontece em Fortaleza por exemplo, ou na cena de Manaus, ou no interior paulista, no interior mineiro, saca?! A revista também quer ajudar a galera nisso, unificar, tornar as distâncias menores, quer divulgar o que rola nos mais distantes lugares do Brasil, pra que todos fiquem sabendo que tem uma cena forte lá naquela cidadezinha esquecida sacou?! Assim as bandas vão poder ir lá e fazer um show, os selos vão poder entrar em contato e trocar material, é divulgar todos os envolvidos, sem panelinhas desgraçadas, sem coletivos, sem tribos, sem gangues, sem clãs, todos juntos por uma causa maior, o underground.

Quando e onde vai ser o lançamento?
Cleuber Toskko: Estamos fechando ainda um lugar pra fazer o coquetel de lançamento. Algo simples, nada demais, só pra batizar mesmo a 1° edição. Eu não ligo pra essas coisas, isso não importa pra mim, eu nem faria na verdade, o importante é a revista nas ruas. Mas o resto da nossa equipe quer arrumar uma desculpa pra encher a cara. (risos).

Apesar de hoje em dia existir tantos canais de informações gratuitas disponíveis em tempo real na internet, qual a importância de uma revista impressa como essa circulando na cena?
Cleuber Toskko: Acho de extrema importância uma publicação impressa nesses tempos de vida Wi-Fi. Justamente porque somos bombardeados de informações o tempo todo, a cada minuto, no final, não conseguimos digerir todas elas. De cada trinta notícias que recebemos, mal vamos nos lembrar de três, e mesmo lembrando, será algo superficial sem reflexão, sem aprofundamento. Já a publicação impressa nos faz parar, pausar essa vida corrida, sentar e dedicar um tempo para lê-la, folear com calma as páginas, apreciar o conteúdo, a estética, emprestar pros amigos, colecionar, etc.
Porque vocês também disponibilizaram a edição pra leitura on line? E onde as pessoas podem acessar?
Cleuber Toskko: A idéia da versão online e do PDF gratuito é levar a revista onde a impressa não pode chegar ainda. É muito difícil fazer uma revista dessa, custa muito caro, fizemos poucas unidades, mas pretendemos aumentar a tiragem no futuro se as vendas forem aumentando é claro, tudo depende do apoio da própria cena que estamos apoiando, é uma troca, é um ajudando o outro. Pra revista durar precisamos do apoio de todos. A versão online é legal nesse ponto, pois quem não puder comprar a física pode ler a online, no Brasil e no resto do mundo. Mas a versão online nem sempre será disponibilizada junto ao lançamento, a ideia é divulgar a online três meses depois do lançamento, porque a revista é trimestral. Seria assim: saiu a número 3, disponibilizaremos a online e o PDF da n°2, saiu a n°4 disponibilizaremos a online e o PDF da n°3, assim ela não atrapalha as vendas. Mas sempre teremos o PDF e a versão online justamente por causa do seu alcance. Obviamente queremos divulgar as bandas nacionais para o maior número de pessoas no mundo e a versão online e o PDF são ótimas ferramentas para isso, mas também precisamos vender a física senão a revista morre. A versão online pode ser lida através desse link:
E o PDF através desse link:
A Revista precisa de grana para ser impressa, como tem sido a captação dos recursos para a execução desse projeto?
Cleuber Toskko: Ter que correr atrás de anunciantes é a pior parte, tentar convencer as pessoas é um saco, ficar explicando que vale a pena investir, que ele vai estar ajudando a revista e o underground e blá, blá, blá. Foi ralação demais, mas pro primeiro número eu até que consegui uma quantidade razoável de anunciantes, a maior parte são de amigos que nem precisei convencer, pois são pessoas que já me conhecem e confiam nos meus projetos, mas quando ofereci para outras pessoas, foi mais difícil. Uma revista desconhecida, sem nome, e eu sem nenhuma edição pra mostrar de exemplo, dificultou tudo, por isso que, quem acreditou e anunciou nessa edição foram os amigos. Mas agora com essa edição na mão creio que será um pouco mais fácil de convencer outros anunciantes. No geral, tivemos que por a mão no bolso e pagarmos a revista, os anúncios ajudaram com uns 40% do valor total, o resto foi pago por mim, pelo Silva Dops, pelo Rodrigo Buba e pelo Felipe Lopes. Estamos na expectativa que a partir do número três ou quatro a revista se pague, não precisa dar lucro, não fazemos isso pela grana, mas ela tem que se alto pagar, sem a gente tirar grana do bolso.

Qual a tiragem dessa primeira edição e como vai ser a distribuição?
Cleuber Toskko: Fizemos inicialmente 300 unidades. Queríamos fazer uma tiragem maior, mas como falei, o número de anunciantes e a grana que tivemos que colocar, não possibilitou uma maior tiragem. Acho que vai ser bem difícil fazermos uma segunda prensagem desse primeiro número, pois não vamos ter lucro nenhum nas vendas, e nem mesmo o reembolso da grana pessoal que investimos, ou seja, ela já saiu com prejuízo financeiro, mas estamos otimistas para as próximas edições. Se não acontecer, infelizmente vamos ter que parar de edita-la, ou manter só a versão online, mas o propósito maior da revista é a versão impressa, a online não nos dá tanto prazer. A distribuição e venda está sendo feita através da página oficial da revista no facebook:
As pessoas entram em contato, fazem o depósito e enviamos a revista no dia seguinte. Já em Belo Horizonte ela pode ser adquirida na loja Mania De Rock, na galeria do rock, na loja Armany Tattoo na Savassi e na Cogumelo Records.

E entre as bandas e público underground, como tem sido a receptividade para com a BH Caos Magazine?
Cleuber Toskko: Tem sido ótimo, todos apoiaram! Tenho recebido muitas mensagens legais de pessoas do Brasil todo, parabenizando pelo projeto. O interessante de mencionar aqui é que mesmo a revista levando o nome ‘‘BH’’Caos, a publicação não se destina somente as bandas da capital mineira, nosso projeto é apoiar todas as pessoas envolvidas no underground nacional. Tanto que nessa primeira edição, tem divulgação de bandas de São Paulo, do Paraná, da Paraíba, do Rio De Janeiro, do Espírito Santo e de vários outros estados. O nome da revista vem de uma coletânea que meu selo Sinfonoise Distro Records lançou em 2014 com dezesseis bandas aqui da capital, então resolvi dar continuação a esse nome que acabou virando um projeto maior dentro da sinfonoise.

E quem quiser mais informações sobre como anunciar, como divulgar sua banda na Revista, qual o contato?
Cleuber Toskko: Podem escrever para sinfonoise@gmail.com 

1ª Edição: Leia Aqui
Valeu, desejo sucesso nesse novo projeto e o espaço é de vocês:
Cleuber Toskko: Eu que agradeço parceiro por essa oportunidade de falar da revista. Vamos todos continuar lutando por nosso underground, seja com revistas, selos, bandas, bares, zines, o que for. O underground é honesto e vivemos ele todos os dias de nossas vidas por toda vida, uma das poucas coisas honestas que restaram na humanidade. Quanto aos escrotos que se infiltram na cena eles desaparecerão, como sempre aconteceu, suas máscaras cairão, só prevalece os humildes e batalhadores, os que lutam para ajudar a cena e não para se autopromoverem, esses terão seus nomes respeitamos por toda vida, não como uma forma de idolatria e sim de reconhecimento e respeito. Quero finalizar com uma mensagem para algumas pessoas que reclamam e dizem que a cena morreu, que o underground acabou. Ele não acabou, ele não morreu, ele nunca esteve forte ou fraco, o underground sempre foi aquilo que você quis que ele fosse na sua concepção, o underground está vivo e vai continuar vivo por gerações, é você que tem morrido para ele a cada dia.
CONTATOS:
Email: sinfonoise@gmail.com
https://www.facebook.com/bhcaosmegazine/
Acesse o Blog da Revista: http://bhcaos.blogspot.com.br/

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Amnésia Coletiva comemora 11 anos com show

Vamos começar essa semana apresentando aqui um bate papo com o pessoal da banda Amnésia Coletiva, que completa onze anos em atividade. Natural de Jacareí, a banda já tocou em várias cidades do Brasil, e dia 30 de Abril estará realizando o show de aniversário com a participação da banda Invasores de Cérebros, dentre outras. Se liguem na conversa com o Lecão e o Gaúcho, e conheça um pouco mais sobre a Amnésia Coletiva.
Lecão e Gaúcho
A Amnésia Coletiva já está na estrada há 11 anos. Quem vivencia o underground de verdade, sabe como é difícil manter-se na ativa por tanto tempo. Qual o segredo da Amnésia Coletiva?
Amnésia Coletiva: Nosso segredo é simplesmente não desistir, pois acreditamos no que vivemos, no que tocamos e escrevemos. Apesar de tanta dificuldade essa é nossa vida.

Nos fale um pouco sobre a discografia da banda?
Amnésia Coletiva: O Amnesia Coletiva começou gravando uma demo em 2006 com apenas 3 musicas, em 2007 gravamos o CD "Pedras em minha vidraça" com 13 musicas e uma bônus, em 2008 participamos de uma coletânea da nossa região com duas musicas o nome era "Você não vale nada", em 2010 gravamos um split com nossa banda irmã Pé Sujus com o nome "Estamos unindo nossas forças para destruir vocês". Em 2014 participamos da coletânea "Expresso do subúrbio" organizado pela propria banda e com a parceria novamente da banda Pé sujus. No Ano de 2015 Gravamos um DVD documentário comemorando os 10 anos da banda (Disponível no Youtube como DOC 10), gravamos também uma coletânea chamada "Contra cultura" dos parceiros do Horda Punk e com várias bandas do país, Este ano estamos preparando o CD "Vou ser punk até morrer" com 5 musicas inéditas e musicas dos cds anteriores. 
Ouça Aqui Amnésia Coletiva
A Amnésia Coletiva já passou por várias formações. Qual o motivo de tantas mudanças?
Amnésia Coletiva: Responsabilidades que não haviam, possibilidade de continuarem ou até mesmo falta de vontade de alguns. Deixando claro que isso acabou nos fortalecendo, consequentemente cada um deixou um estilo, por isso temos uma ampla variedade de som, você consegue escutar musicas um pouco mais lentas, até as pauladas, isso sempre dentro da nossa proposta de protesto.
Formação atual da Amnésia Coletiva. Da esquerda pra direita: Léo - Guitarra, Gabriel - Bateria, Gaúcho - Baixo e Lecão - Vocal.
Vocês também organizam seus próprios shows. O faça você mesmo ainda é a saída para bandas independentes e undergrounds?
Amnésia Coletiva: Sim, sempre! Não dependemos de hipócritas nos dizendo o que fazer e como fazer, fazemos do jeito que dá, com união de cada um. As vezes um faz o cartaz, o outro empresta caixa, instrumentos, a casa e etc... assim continuamos abrindo espaço para bandas novas e tocando com nossos parceiros mais velhos.

Ano passado a banda lançou um documentário bem bacana sobre a sua história. E teve um momento em que você fala sobre a mensagem presente nas letras. E aí você cita como exemplo uma música que você fez sobre o seu pai e fala também sobre a música "Vida Desgraçada", que por muitas pessoas ela foi levada para outro contexto. Como foi a produção desse Doc? E conte essas histórias aí, e nos fale sobre a importância das letras nas suas músicas:
Amnésia Coletiva(Lecão): A musica "pedras em minhas vidraças" eu pensei que seria uma homenagem para meu finado pai, mais quando estava escrevendo percebi que era uma homenagem para toda minha família,ela fala sobre meu pai que perdeu a vida trabalhando em uma fábrica e acabou virando apenas mais uma triste estatística, A família acabou perdendo a causa na justiça e assim dizendo ao contrario, eu não nasci punk, a vida me tornou PUNK!
Referente a musica "Vida desgraçada", paramos de tocar pois muita gente entendeu de maneira errada a proposta, falávamos de pessoas que perdem a vida e não de alguma apologia a qualquer coisa.
O doc 10 foi gravado com depoimentos dos integrantes atuais, antigos e amigos da banda, o doc foi uma grande realização para a banda, pois foi o primeiro DVD contando a historia da banda e não podíamos deixar passar em branco todo perrengue dos 10 anos de banda.
Como é a cena aí em Jacareí? A galera cola em show punk? Existem outras bandas por aí que ajudam a fortalecer a cena local?
Amnésia Coletiva: A cena já foi melhor na "cidade" porém como moramos em uma região extensa temos uma galera que apóia e está sempre na correria para manter o movimento vivo, assim tornando a cena da região mais forte.

Vocês já fizeram bastante shows. Tem alguma história aí sobre algum deles que você não vai se esquecer?
Amnésia Coletiva: Tem o show de Brasilia, fomos convidados pelos nossos parceiros do "Os Maltrapilhos", tocamos e conhecemos uma galera gente fina, tomamos uma pinga de jambu que estragou o baixista mais tudo bem...hahaha...tivemos a possibilidade de visitar a casa do Clebão na Ceilândia tomar umas e jogar conversa fora, foi muito foda!!! tem o vídeo no youtube também pra quem quiser ver .(Amnesia Coletiva em Brasília).
A banda completou 11 anos, e em comemoração vai rolar um show dia 30 de Abril com várias bandas tocando aí com vocês. Fale um pouco sobre esse evento e convide a galera aí:
Amnésia Coletiva: Para nós será mais um momento importante que marca nossa história, mais uma vez iremos mesclar bandas antigas com bandas novas, assim dando espaço para toda geração do punk rock!!! E sem esquecer que dia 1º de Maio não é só dia de comemorar o aniversario mais também e dia de protesto, de luta dos trabalhadores!!!
Cartaz do show de comemoração. Compareçam!
Muito obrigado pela atenção, parabéns pela correria durante todo esse tempo, e deixo aqui o espaço aberto pra vocês falarem o que quiserem:
Amnésia Coletiva: Gostaríamos de agradecer o espaço para contar um pouco de nossa jornada e agradecer todos que estão junto na caminhada contra o preconceito, contra as injustiças sociais e esperamos em breve visitar e fazer um barulho em Vitoria da conquista!!! Valeu irmão, forte abraço a todos! Êra punk!!!
Isto é Amnesia Coletiva Porra!!!

Contatos:
Showlivre:



quinta-feira, 21 de abril de 2016

Curta João Brandão adere ao punk na TV Brasil

Com o Blog Tosco Todo ainda focando no punk rock no audiovisual brasileiro, trago esse video que foi exibido no ultimo dia 20 de Abril com uma entrevista com Ramiro Grossero, diretor do curta "João Brandão Adere ao Punk" no programa Revista do Cinema Brasileiro.
Ramiro Grossero - Diretor de João Brandão adere ao punk
Ramiro Grossero, nascido no Gama-DF, ele é arte-educador e usa a vivência da sala de aula e das ruas para dirigir seu primeiro curta-metragem. Baseado no conto homônimo de Carlos Drummond de Andrade, João Brandão, estudioso de fenômenos sociais, dedica-se no momento à pesquisa do punk. Com roteiro do próprio Ramiro Grossero, fotografia de Júlio Mautner, Pedro Henrique Aguiar e Ricardo Grilo, a montagem ficou com William Araújo. A direção de arte ficou com Ramiro Grossero, William Araújo e Fabíola Lima. O curta tem ainda na edição captação de som por conta de Edmilton Alves da Silva e trilha sonora sob a responsabilidade de Fofão e Ricardo Grilo.
LUZ, CÂMERA….AÇÃO PUNK !!!!
(Release publicado por Tomaz André no www.zineoficial.com.br ).
Um curta-metragem produzido no Distrito Federal, o veterano punk paulista Ariel Invasor, vocalista das bandas Invasores de Cérebros e Restos de Nada, dois pilares do punk rock brasileiro, faz papel de Carlos Carlos Drummond de Andrade, em adaptação de crônica escrita pelo próprio Drummond: “João Brandão Adere ao Punk”. A direção do curta é do punk brasiliense Sangue Ralo, baterista da banda Canibais e professor da rede pública de ensino. Nas filmagens figuram importantes nomes da cena punk candanga como, por exemplo, o cartunista Broba, ex-vocalista e letrista da banda Cegos, Surdos e Mudos. Para o papel da personagem João Brandão foi escolhida uma figura ímpar da contra-cultura do Distrito Federal, o poeta J. Pingo.
O personagem João Brandão ganhou vida pelas mãos de outro poeta, e também cronista, o mineiro Carlos Drummond de Andrade, que fez uma análise contundente sobre o movimento punk no Brasil. O texto de 1983 surpreendeu pelo entendimento demonstrado pelo autor sobre o assunto, sem o preconceito que muitos intelectuais e jornalistas imputavam ao movimento.
Drummond morou anos no Rio de Janeiro e de lá alavancou sua carreira. Após a morte, o escritor ganhou estátua na Cidade Maravilhosa e todas as pompas de cidadão carioca, sem jamais esquecer sua herança mineira, com especial atenção ao que ocorria na vida política e social do País. Com propriedade de quem conhecia o Rio e os modismos lançados a partir da metrópole, festiva para a burguesia e sede de uma mídia poderosa, o escritor alfinetou os  “moderninhos” com sua crônica “João Brandão Adere ao Punk”, publicada ainda sob o regime militar, no Jornal do Brasil. Na crônica, Drummond apresenta João Brandão, um estudioso de fenômenos sociais, modismos e frivolidades, que passa a se dedicar à pesquisa do punk. As conclusões da personagem ilustram um pouco os motivos pelos quais Carlos Drummond de Andrade merece estar no topo da lista de autores mais lúcidos da literatura nacional. Na fala de João Brandão, Drummond dá respostas a uma entrevista fictícia, que transcreverei a seguir, suprimindo as perguntas.
João Brandão diz: 
“Ainda não cheguei a nenhuma conclusão, Mas suspeito que o punk veio atender às necessidades do País nesta conjuntura (…) Não me refiro, é claro, a modalidade do punk cultivado pelas classes alta e média da Zona Sul. Este é um punk de espírito e camisetas importados, jaqueta de couro valendo um punhado de dólares. É artigo de importação, que deve figurar na lista de produtos proibidos pelo Delfim (Nota: ex-ministro do Planejamento, no governo Figueiredo). Refiro-me ao outro, o de camiseta adquirida na rua Senhor dos Passos e rasgada. O moço não a rasgou para demonstrar maior identificação com o punk: ela está rasgada porque é velha e muito batida. Em suma, o punk pobre. (…) Faz muita diferença, porque o punk dos pobres, suburbano e sofrido, revela no seu despojamento, que para ser punk é necessário enfrentar uma barreira e abrir mão de toda a sociedade de consumo. Ao passo que o Leblon é consumista, no esquema clássico. (…) Não importa que a sociedade seria dos dois grupos e os tolere igualmente, enquanto a indústria fabrica objetos sofisticados para o uso do punk de salão. Importa é a atitude deles diante da vida. Um finge contestar, outro contesta mesmo.(…) Porque os punks malditos sabem que, passada a moda, eles terão de inventar outra forma de lazer que seja protesto, ou outra forma de protesto que seja lazer, ao passo que os ricos não estão ligando para isso, o futuro deles está garantido, na medida em que podem garantir alguma coisa no mercado de vida. Então eu simpatizo com o punk despojado, mau poeta e mau cantor, mas empolgado pela missão que se atribui, de destruir a ordem conservadora por meio da música, do grito, do gesto e do anarquismo primário.”
Voltando aos meus comentários, a publicação da crônica “João Brandão Adere ao Punk” em 1983, no então poderoso Jornal do Brasil, ficaria distante para novos punks, aqueles que surgiram depois da moda a qual Drummond se referiu, se trechos não tivessem sido reproduzidos em diversos fanzines ao longo de anos. Depois de ler a crônica pela primeira vez, apresentada por um amigo engajado no movimento, fiquei a imaginar a personagem e o autor com imensos topetes moicanos, ou outro visual que identificasse os dois como punks.  O tempo passou rápido. Enquanto arquivei em um ponto obscuro as imagens que a leitura despertou em meu cérebro, uma turma do DF resolveu, mais uma vez, trazer João Brandão à luz… Luz, câmera e ação! Sob a direção do amigo Grilo, atualmente baterista da banda candanga Os Canibais, terminaram dia 09 de junho de 2012, sábado, as filmagens do Curta “João Brandão Adere ao Punk”, com trabalhos técnicos da produtora UP Filmes. Grilo assina a direção dos trabalhos como Sangue Ralo. Assina também o roteiro. No elenco, fazendo o papel de Carlos Drummond de Andrade, está o punk paulista Ariel, vocalista das bandas Restos de Nada e Invasores de Cérebros, dois pilares do punk nacional. O poeta e ativista cultural brasiliense J. Pingo também integra o elenco, fazendo o papel de João Brandão, personagem central da trama. Os figurantes do curta são conhecidos na cena punk candanga, entre os quais, integrantes das bandas The Insult, Mackacongs 2099, ARD, Marmitex S.A. e Canibais.
Juntamente com a banda brasiliense Galinha Preta e a paulista Invasores de Cérebros, todas as bandas citadas no parágrafo anterior participaram de um grande show a partir das 18 horas no Mercado Cultural Piloto, localizado no Jardim Botânico. Durante as apresentações foram captadas as cenas finais do curta “João Brandão Adere ao Punk”, baseado na crônica homônima de Drummond de Andrade. Quem compareceu pode se orgulhar no futuro de ser figurante desse filme histórico. A “cereja do bolo” da festa, no entanto, é a participação do cartunista candango Broba, morador da cidade de Ceilândia. Rai, como Broba também ficou conhecido no movimento punk do DF e Entorno, fez contribuição aleatória ao que foi escrito por Drummond. Com traço forte, o cartunista ilustrou com visão própria, e bastante apropriada, a crítica punk aos status quo. Além de animações de seus desenhos, inseridas na edição final do curta, Broba fez figuração como zelador do prédio de João Brandão, participando de todas as captações de imagem.
Para finalizar, devo dizer com angústia que jamais saberei de detalhes preciosos. Após conversar com o diretor Grilo Sangue Ralo na manhã que antecedeu a finalização do curta, tenho certeza que peculiaridades do filme “João Brandão Adere ao Punk” não estarão na edição final, mas nas lembranças de quem abraçou a causa. Foram feitas tomadas quarta-feira, dia 07 de junho de 2012 no centro comercial Conic e no Bar Beirute, redutos tradicionais da boemia maldita em Brasília, com boca livre e bebida à vontade em um banquete oferecido pelo dono do Beirute, o senhor Chiquinho, empolgado com o filme. Na quinta feira a equipe técnica e o elenco seguiram para novos trabalhos em locais onde permaneceriam fazendo filmagens também na sexta e no sábado. Esses locais foram o Mercado Cultural Piloto, espaço cultural localizado na Região Administrativa do Jardim Botânico, e ruas de São Sebastião, cidade próxima. Muita coisa deve ter rolado entre os deslocamentos do Jardim Botânico para São Sebastião, dois exemplos, cada qual com sua carga, de como nas cercanias de Brasília foram instalados núcleos habitacionais sem infraestrutura de saneamento ou serviços públicos, esquecidos anos a fio pelo governo. Repousa aí uma coincidência: O Rio de Janeiro, também conhecido como “A Cidade de São Sebastião”, foi de onde Carlos Drummond de Andrade disparou para todo Brasil as percepções da personagem João Brandão sobre o movimento punk e seu grito contra desigualdades sociais. Com as filmagens do curta dirigido por Grilo Sangue Ralo, a Cidade de São Sebastião, no Distrito Federal, e os condomínios com casas elegantes no Jardim Botânico, repaginam a obra de Carlos Drummond de Andrade, que se recusou entrar para a Academia Brasileira de Letras, de maneira que faria o autor aplaudir o filme com entusiasmo. A periferia de Brasília, com ilustres convidados de Goiás e São Paulo, invadiu a corte com punks verdadeiros, sem pedir licença.
Tomaz André ( www.zineoficial.com.br )




sexta-feira, 15 de abril de 2016

Mais 7 documentários para conhecer melhor a cena Punk HC

Devido ao número de sugestões que foram enviadas sobre a matéria "10 Documentários para conhecer melhor a cena Punk e HC", estou disponibilizando mais uma leva de documentários sobre o tema. Então, compre mais pipoca e guaraná (ou cerveja e tira-gosto), que a sessão de cinema continua!!!

1-A Botinada
A Origem do Punk no Brasil é um documentário que narra a história do início do movimento punk no Brasil, (1976 - 1984), e o paradeiro de seus protagonistas. O documentário foi produzido por Gastão Moreira e lançado pela ST2 em 2006. Foram quatro anos de pesquisa, 77 pessoas entrevistadas, milhares de horas nas ilhas de edição, 200 horas de vídeo e muitas imagens raras e inéditas compiladas pela primeira vez.
O documentário teve como base os documentários Punks, Garoto do Subúrbio e Rota ABC, e conta com imagens raras, como a banda Cólera tocando ao vivo em 1980 na TV Tupi que nunca foi ao ar e o Inocentes tocando no Gallery em 1982, além de entrevistas com punks de todo Brasil, jornalistas, cineastas, bandas e simpatizantes do movimento punk.

2-Três Acordes de Cólera
Produzido por Paula Harumi & Thais Heinisch em 2005, esse doc foi exibido pela TV PUC no Programa Comunicantes, um Canal Universitário de São Paulo.

3-Olho Seco - European Tour 99
Documentário da lendária banda Olho Seco fazendo a sua primeira turnê européia em 1999. 


4-Verdurada: a face sóbria do punk.
Guilherme Frimm, Paulo Henrique Marçaioli e Rafael Takano produziram esse documentário sobre a cena  Vegetariana e Straight edge no Brasil, mais especificamente em São Paulo. Verdurada: a face sóbria do punk foi filmado em 2007 e foi um trabalho de conclusão de curso de Jornalismo da Faculdade Casper Líbero sob a orientação de Pedro Henrique Falco Ortiz.

5-Aos Berros - Movimento Punk em Juiz de Fora-MG
Documentário que conta a história do movimento punk em Juiz de Fora - MG, em meados dos anos 80, através de depoimentos fotos e vídeos.

6-Punk Rock Hardcore é do caralho!!
Esse documentário mostra o dia-a-dia dos jovens do Alto José do Pinho, bairro da periferia do Recife. Entre eles estavam os integrantes da banda Devotos do Ódio (que depois passou a se chamar somente Devotos) e o documentário conta como a música mudou suas vidas e a imagem do bairro, antes conhecido apenas por sua miséria e marginalidade.

7-Cuba Punk - Asfixia Social
Documentário produzido pela Oloeaê Filmes, mostra a banda Asfixia Social em sua primeira tour internacional, mergulhando 100% na diversidade da cultura cubana. O Punk e o Jazz, o Hardcore e a Salsa, o HipHop e o Metal se misturam nesta viagem por um país inspirador, resultando neste documentário inédito durante a primeira turnê de uma banda brasileira em Cuba,




quarta-feira, 13 de abril de 2016

10 Documentários para conhecer melhor a cena Punk e HC

Hoje estarei focando na produção audiovisual no meio underground desde 1983 até a cena mais atual do Punk Rock ao Hardcore. Então, prepare a pipoca e o guaraná (ou a cerveja e o tira-gosto) pra essa sessão de cinema do underground.

1- PUNKS 1983
Documentário sobre o Punk no Brasil no ano de 1983. Com as bandas: Inocentes, Ratos de Porão, Fogo Cruzado, Distúrbio Cerebral


2- GUIDABLE - A VERDADEIRA HISTÓRIA DO RATOS DE PORÃO
Documentário sobre a banda Ratos de Porão com depoimentos de todos os integrantes que passaram pela banda, além de falar sobre a gravação dos discos e turnês.


3- QUE ESSE GRITO NÃO SEJA EM VÃO! TRIBUTO AO CÓLERA
Documentário em homenagem ao vocalista do Cólera Redson Pozzi. Gravado durante o Tributo a Redson, no Hangar 110 em 2011 com a participação de João Gordo, Nenê Altro, Jão, Finho, Antonio Bivar, Ariel, dentre outros.


4- AMNÉSIA COLETIVA DOC 10
Documentário sobre a trajetória da banda Amnésia Coletiva, da cidade de Jacareí-SP, com depoimento de vários integrantes que passaram pela banda, além de depoimentos de Barata (DZK), Fernando Feio (Pé Sujos), dentre outros.


5- REPLICANTES.DOC
Documentário sobre a trajetória da banda gaúcha Os Replicantes.


6- CAMA DE JORNAL - BREVE HISTÓRIA DO PUNK ROCK DE CONQUISTA
Dividido em 6 partes, esse documentário descreve a trajetória da banda de punk rock baiana Cama de Jornal e a cena onde ela está inserida.



7- DO UNDERGROUND AO EMO
Esse documentário retrata a cena de hardcore melódico surgida do underground brasileiro, e que posteriormente popularizou o estilo com bandas como CPM22 e Dead Fish.


8- ÓDIO SOCIAL EURO TOUR 2015
A banda Ódio Social registrou momentos de sua passagem pela Europa. E a convite da banda, a Insanidade Filmes produziu esse material com relatos dessa viagem regada a cerveja, estrada, amizade e roubadas.


9- INOCENTES 30 ANOS
Documentário sobre a banda Inocentes, conta um pouco sobre o início da banda, tretas, com depoimentos dos integrantes antigos e atuais. A única "falha" do documentário é a ausência do Ariel, que foi um dos vocalista da banda, e não apareceu dando depoimento. Ele até aparece em algumas imagens...Ficou essa lacuna.



10- ARIEL - O DOCUMENTÁRIO
Aqui são duas amostras do documentário que está sendo produzido com esse ícone do punk no Brasil. E esse documentário contará a história de um dos pilares do Punk Rock nacional. Ariel, vocalista das bandas Restos de Nada, Invasores de Cérebros e ex- vocalista dos Inocentes.


domingo, 3 de abril de 2016

Entrevista com Beto Feitosa do Pedras que Rolam

Trabalhando há quase três décadas em prol do underground do sertão sergipano, Beto Feitosa alimenta em seu currículo parcerias históricas dentro da cena alternativa (rock em todas as direções). Através de seu programa de rádio semanal na cidade de Canindé de São Francisco, extremo noroeste do estado de Sergipe, ele faz a conexão com as novidades produzida no Brasil e no mundo afora. De quebra, organiza eventos com bandas que são ouvidas no programa, produz discos e distribui ensinamentos de como se organizar um festival com oito bandas -sem edital- e proliferar a cultura do faça você mesmo às novas e antigas gerações.
Beto Feitosa apresentando o programa Pedras que Rolam.
Quando surgiu a ideia e o que o motivou a fazer o programa “Pedras que Rolam” na Rádio Xingó FM, Canindé do São Francisco SE?
Beto Feitosa- O projeto existia há muito tempo, desde a época que morava em São Paulo. Nos anos 80’ costumava ouvir a FM 97 Rock (ABC FM de Santo André/SP), ficava imitando os locutores da época e sonhava com um programa direcionado ao Blues, Jazz e Rock nas suas diversas vertentes; neste mesmo período fundei com amigos da Vila Carrão na Zona Leste a Equipe U.P.R., fazíamos de tudo, desde a discotecagem residencial, até as pequenas festas punks animadas ao som dos K7s e alguns LPs (Vinil). No entanto, coloquei meu sonho em pratica no inicio de 1992 logo após iniciar moradia fixa em Canindé de São Francisco/SE. O projeto/programa entrou na grade de uma emissora comunitária da igreja católica com duração de uma hora e trinta minutos, durou pouco menos de três meses, encerramos devidas divergências com a diretoria da época. O programa Pedras Que Rolam com o formato atual iniciou em outubro de 2009, após muita persistência e trabalho duro dentro do cenário local e regional. As emissoras comerciais FM e AM da região só colocavam em sua grade musical diária as bandas que já estavam no mercado, na sua maioria ligada à grande mídia ou aquelas que possuíam empresários gerenciando e promovendo ($); algo similar ao “popular” e “repetitivo” que é empurrado goela abaixo todos os dias como se fossem representantes do nosso gosto musical ou antimusical.
http://www.radios.com.br/aovivo/radio-xingo-98.7-fm/18436
Beto, o que mudou do lançamento do Zine Underground Store nº1 até chegar ao ar o Programa Pedras Que Rolam?
Beto Feitosa- Ocorreram diversas mudanças, muitas favoráveis e outras nem tanto. Não tínhamos espaço na mídia comercial e precisávamos urgente de algum meio para divulgar e fortalecer os eventos, projetos culturais e bandas da nossa região.
Na época recebia muitos zines e informativos independentes que chegavam acompanhados de carta via correio, outros exemplares foram doados pelo Luiz Umberto (Rapadura Discos), fazia questão de ler todas as publicações e copiava a maioria, distribuindo gratuitamente os materiais para melhor informação dos amigos em nossa cidade, a partir disto vingou a ideia de preparar nosso próprio zine. Apesar do pouco tempo disponível esbocei uma matriz (boneca) do “Underground Store Zine”, e, em setembro de 2004 colhi opinião de alguns leitores da região. Fiquei muito feliz com as opiniões quase 100% favorável e em janeiro de 2005 lancei a 1ª edição com cinquenta exemplares que foram distribuídos gratuitamente pelo Brasil afora. Lançamos outras edições, todas com mais de 20 paginas e com tiragem de 100 exemplares que foram distribuídos para o Brasil e alguns países. Depois destes avanços na Cena local, surgiram outros informativos nas redondezas, festivais, gigs e ensaios abertos foram realizados e como consequência de toda movimentação independente na cidade e região, conseguimos levar ao ar o programa Pedras Que Rolam em Outubro de 2009.

São vários anos de programa, até parece fácil, mas quais os desafios enfrentados e as estratégias para manter um programa de rock no sertão sergipano por tanto tempo?
Beto Feitosa- Inicialmente foram concedidas duas horas de espaço na grade da FM todos os domingos, ou seja, das 20 às 22 horas, era um horário com audiência fraca na época, conforme me avisou o diretor geral Paulo Costa, que me procurou para organizar e apresentar um programa com liberdade musical, ele queria um programa de rock diferente e que conseguisse agradar os ouvintes da região. Topei na hora, já tinha tudo pronto! Lapidei o esboço do programa que já possuía em mãos e dois dias depois apresentei passo a passo para toda diretoria da FM, para minha surpresa oito dias depois estava no ar nosso programa piloto (teste). De outubro de 2009 quando iniciamos até junho de 2010 foi sofrimento geral; trabalhava o dia todo de segunda a sábado e sobrava pouco tempo para organizar a programação; queda do sinal da internet, ausência de apoio físico e despesas com aquisições de materiais e envios de brindes, etc, saiam do meu bolso. Devido acumulo de trabalho cheguei a me licenciar durante seis programas para organizar as minhas correrias particulares, porém, a diretoria me pediu que retornasse o mais breve possível, não aprovaram o apresentador substituto. Retornei as atividades com mais energia e sigo até hoje nesta boa luta, atualmente é muito rock em todas as direções todos os domingos das 20 às 23 horas com ótima aceitação dos ouvintes e críticos. Nada foi fácil e exigiu muito trabalho, divulgação, perseverança e principalmente paciência. O retorno financeiro para a emissora foi o aumento da audiência (pela energia da antena e especialmente online), reconhecimento da FM em todo o país e exterior e aquisição de patrocinadores diferenciados para fortalecer o financeiro, pois a emissora é comercial.
Somente para esclarecer os desavisados, não recebo nada (R$ 0,00) para produzir e apresentar o programa; faço porque amo tudo isto e sou imensamente feliz por saber que atualmente temos ouvintes espalhados pelo Brasil afora e parte da América do Sul.

Quando você percebeu que o Programa estava dando certo?
Beto Feitosa- Quando comecei receber telefonemas com diversas blasfêmias e ameaças (risos)! A realidade era que o horário dominical que foi preenchido pelo programa Pedras Que Rolam tinha uma audiência sofrível. Fui procurado pelo diretor geral da emissora para criar um programa de rock diferenciado e abrangente, que ao mesmo tempo aumentasse a audiência no horário. Atualmente somos o 1º lugar online em toda região sertão e continuamos a crescer a cada dia. Recebemos muitos comentários benéficos de “gregos e troianos” e mantemos a mesma simplicidade anterior e respeito com todos os ouvintes sem discriminação. Nosso programa marcou definitivamente a forma de interagir com o publico e com as bandas, outros programas em nossa cidade e alguns municípios vizinhos seguiram a mesma linha. Estamos no ar há cinco anos e dez meses, sempre quebrando as barreiras do preconceito e fortalecendo as bandas independentes, surpreendentemente em uma emissora comercial que atinge mais de setenta municípios de SE/ BA/ AL e PE.
Aquilo que muitos achavam impossível de ocorrer em municípios mais avançados, hoje acontece no pequeno município do sertão de Sergipe.

Em relação às redes sociais, existem algumas críticas no sentido de que elas têm causado ausência de público nos eventos de rock, bem como, acomodações e isolamentos do segmento. Você concorda que o uso e a popularização das redes sociais estão sendo danoso para o cenário?
Beto Feitosa- As redes sociais não prejudicam o comparecimento do publico nos eventos, se utilizada com critério e sabedoria ela pode até colaborar para o sucesso da festa. Claro, temos os viciados digitais que deixam de comparecer para vegetarem em frente ao PC, porém, aqueles que amam verdadeiramente o rock continuam a apoiar os eventos e toda movimentação.
Existe outro meio bem mais perigoso que vem corroendo as estruturas do rock em suas diversas vertentes e quase ninguém nota; a televisão passa para o publico a imagem da violência atrelada ao rock pesado, noticias absurdas são enfeitadas e divulgadas em telejornais que se dizem sérios. Boa parte da programação televisiva é de um grau de mediocridade abominável, agradando aos mais baixos padrões de inteligência. Tudo em nome da audiência e de faturamento ascendentes. Os telespectadores que se danem e consumam o lixo cultural que está sendo oferecido diariamente. Na maioria das emissoras mostram o pop comercial como se fosse musica rock da melhor procedência, a consequência disto é o desconhecimento/esquecimento em massa das bandas independentes/underground que fazem o rock e derivados com amor e garra. Qual seriam as opções para conhecer as bandas independentes e as novas que surgem a todo instante? A internet esta em primeiro lugar por oferecer muita diversidade (Blogs, redes sociais, pesquisas, etc.); temos os programas de rock e derivados que feitos com seriedade podem fortalecer as bandas e os eventos alternativos; informativos/ zines/ revistas independentes podem ajudar muito na interação do publico.
Beto fazendo abertura do Underground Store Festival em 2015.
O que aconteceu com o Alternativo Rock Canindé?
Beto Feitosa- Depois das eleições em 2012 a cidade mergulhou numa onda de atraso com o inicio da administração de um Pastor demagogo e politiqueiro. O Rock e seus derivados tiveram as portas fechadas e as exigências aumentaram e se tornaram absurdas para realização de qualquer festa neste segmento. Depois das ultimas tentativas em 2012/ 2013 e 2014 sem sucesso; conseguimos em 2015 o Alvará de utilização do espaço publico, o documento foi pago antecipadamente apesar do valor absurdo para realização do festival neste porte. Juntamente com nosso Grupo Usina de Artes decidimos mudar o titulo do festival e a formatação desta edição para atingir um público mais amplo e diversificado.
O Underground Store Festival aconteceu no Mês de julho/2015 e apesar das dificuldades e falta de apoio realizamos a festa com sete bandas de SE/ BA e AL e obtivemos um bom público e pela primeira vez conseguimos pequeno lucro, mesmo com as chuvas torrenciais naquela noite, fomos agraciados com o sucesso merecido.
Público presente no Underground Store Festival
Festival underground com oito bandas é miopia do organizador, planejamento de falência administrativa ou falta de experiência no assunto?
Beto Feitosa- Festival underground com oito bandas é loucura, mas não é inviável. Tudo dependerá do planejamento e administração do organizador e seus parceiros. Presenciei muitos eventos com três, quatro e cinco bandas que não deram certo por motivo da inexistência de planejamento antecipado. Notem este exemplo: Há alguns dias um colega que organizou Festival Metal em Aracaju me ligou dizendo que compareceram menos de 20 pessoas na festa, fiquei abismado a principio e questionei sobre o que aconteceu, afinal, eram cinco bandas conhecidas e acostumadas na estrada, mas ele não sabia explicar onde começou o erro... E argumentou sobre as varias caravanas de outras cidades que estavam marcadas, porém, nenhuma compareceu no local. Conversando com organizadores que sofreram prejuízos e outros desacertos nos seus eventos anteriores, percebemos que as falhas são muitas, porém, deixamos apenas algumas dicas:
Tenha em mãos o seu projeto da festa, mesmo que seja somente um esboço. Vá adicionando por escrito tudo que você perceber não constar, desta forma você melhora e engrandece o seu evento.
Valorize as bandas participantes, tanto no quesito financeiro, como no suporte geral.
Faça muita divulgação da sua festa em meios diferentes e confiáveis.
Falta de informação para o público e as informações desencontradas sobre o evento, podem diminuir o interesse na sua festa.
Tenha disposição e tempo para buscar patrocinadores na sua região, sempre mostrando as vantagens e o retorno para o empresário ou pessoa física.
Os valores ($) adquiridos antecipados na venda de ingressos e patrocínios não deverão ser gastos antecipadamente em outras despesas que não sejam aquelas da própria festa.
O trabalho, a credibilidade e a paciência devem ser prioridades para um bom organizador; quando as bandas e o publico retornam dos eventos falam sobre o mesmo durante algum tempo; este fator pode ser favorável ou desfavorável para o sucesso de sua próxima festa.

Imagino que você tenha várias bandas para destacar, porém, qual atualmente, você recomendaria para ouvirmos?
Beto Feitosa- Nesta questão posso pecar por não escolher alguma banda de qualidade, afinal, temos uma infinidade pelo mundo. Ultimamente têm surgido muitas bandas que estão surpreendendo, seja nacional ou internacional. Citarei algumas que se destacam em minha opinião, porém, sem distinção de época: Blues Pills, Seu Montanha, Agathocles, Deep Purple, Ramones, Chuck Berry, Led Zeppelin,The Baggios, Claustrofobia, Deus Castiga, A Bolha, Gangrena Gasosa, Misantropia, Made In Brazil, Sepultura(antes), Pastel de Miolos, Karne Krua, Slayer, Doom, Extreme Noise Terror, Hatend, Terrorizer, The Stooges, Flicts, Morcegos, Bob Dylan, Cruz da Donzela, Ferdinando Blues Trio, Agrotóxico, Distintivo Blue, Horda Punk, Casca Grossa, Não Conformismo, Plástico Lunar, Protesto Suburbano, Rot, Carlos Santana, Brazilian Blues Band, No Sense, Warcry, Lokaut, Social Distortion, Creedence, Mastodonte, Rosas Negras, Demented Are Go, Eagles, C.A.M., Stonex, Crosby, Stills, Nash & Young, Masher, Madbal, Ana Popovic, Rotten Flies, Stevie Ray Vaughan, Mopho, Riveros, Cama de Jornal, Vendo 147, Snooze, Sick Sick Sinners, AC DC, Krisium, Armagedom e muitas outras.
Beto Feitosa e Silvio do Karne Krua
De vez em quando eu leio ou ouço algumas bandas questionando por espaço na grande mídia do País. O rock, atualmente, ainda precisa do espaço na grande mídia? Qual o papel desta para o fortalecimento do rock?
Beto Feitosa- As bandas que fazem o verdadeiro rock independente não necessitam de espaço na grande mídia, elas fazem seu próprio caminho, podemos citar diversas bandas que lutaram com perseverança e conseguiram seu espaço com esforço próprio, vou nomear apenas uma, Karne Krua! Algumas pinceladas de marketing de maneira discreta são sempre bem vindas para elevar o conhecimento do publico referente à banda e suas ações, porém, com muito cuidado para não se tornar refém do sistema.

Defina o que é Cena. O que atualmente influencia negativamente para o enfraquecimento do cenário nacional? Suas considerações e nosso profundo agradecimento!
Beto Feitosa- A definição de Cena pode abranger muitas explicações, cito exemplos: Conjunto de personagens, atores, coadjuvantes e outros tipos; qualquer ação que se passa dentro do âmbito de visão do observador; lance ou passagem de uma peça; qualquer ação ou debate, ruidoso ou descomedido feito em público; lance ou passagem de uma peça; entre outras explicações.
Cena é como se fosse um teatro, palco, onde as pessoas fazem parte de um movimento artístico e todos juntos formam o que chamamos de uma Cena local ou regional. Toda movimentação feita em prol de bandas, Teatro, shows, zines, programas de rádio, e afins, são partes deste cenário, portanto, ela pode ser derivada de qualquer estilo musical e não somente do rock. Usualmente esta ligada intimamente ao underground ("subterrâneo", em inglês), que é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da grande mídia.
O que mais tem enfraquecido o cenário alternativo e muitas vezes destruído em alguns locais, são as grandes mídias ligadas às gravadoras e produtoras com interesse exclusivamente capitalista. Outros fatores que minam o desenvolvimento da Cena são as bandas imaturas que se acham estrelas e criticam sem fundamento outras bandas independentes pelo estilo da sonoridade diferenciada, este fator colabora para a divisão de estilos musicais nos eventos e consequentemente enfraquece ainda mais a pouquíssima união existente; ausência de casas e espaço para shows, às vezes nenhuma no interior abre espaço para apresentações autorais e underground; produtoras, gravadoras, distribuidoras que fingem apoiar bandas emergentes independentes e na realidade são abutres a cata de dinheiro para sua opulência.
Não reclame, mude para que as coisas mudem e façam vocês mesmos as movimentações; Zines, Gigs, Filmes, revistas, pinturas, artes em geral... Ultrapasse os muros da inércia! Solícito as bandas independentes que usem suas armas; microfones, guitarras, contrabaixos, baquetas, amplificadores, etc. e façam com que esta munição não seja inofensiva se comparada aos imponentes cifrões que comandam o sistema vigente.Agradeço aos amigos (das antigas) Danilo Cruz e Décio Filho pela entrevista, aproveito o ensejo para pedir desculpas pelo atraso no envio das respostas.
Finalizo com uma frase da grande benemérita, Madre Tereza de Calcutá; “Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor”.

Texto: Danilo Cruz
Entrevista: Décio Filho e Danilo Cruz.
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