Tenho postado poucas entrevistas ultimamente no blog, mas a partir desse mês estarei de férias no trabalho, e tenho algumas entrevistas já engatilhadas. A primeira delas é essa de hoje com o Alexandre, vocalista da banda N.T.E., lá de Natal, no Rio Grande do Norte. Chega de conversa, e vamos para a entrevista!!!
1-A banda N.T.E. surge em 2006, mas só em 2010 a banda inicia suas atividades de fato. O que aconteceu nesse intervalo de 4 anos?
Alexandre, vocalista da banda N.T.E. |
Alexandre: Vai ser a primeira vez que vou contar tudo de forma detalhada o que aconteceu com a banda de 2006 até 2010. Eu era vocalista de uma banda daqui de Natal por nome de Raça Odiada, que foi montada em setembro de 1998 e que acabou em 2005. Como não consigo ficar longe da cultura underground, no dia 21 Janeiro de 2006, resolvi junto com um amigo meu da época (que agora é ex-amigo), montar uma nova banda que não tivesse tantos problemas como a minha antiga banda. Daí montamos a N.T.E, com instrumental bem simples e letras sérias. Ensaiamos o primeiro semestre de 2006 todinho e a banda éramos só nós dois. Eu tocava bateria e cantava e o outro cara tocava guitarra e fazia o vocal também.
Construímos uma sonoridade simples, porém, consistente. Pra mim quanto mais simples melhor! Principalmente quando se trata de música hardcore/punk, alternativa e independente. Não precisamos complicar tanto as coisas, pois nossas vidas já são bem complicadas de se levar.
Paralelamente à banda, tive muitos problemas pessoais. Estava desempregado, sem estudar e o relacionamento que eu levava com a companheira da época foi um fiasco. Enfim, minha vida em 2006 estava à beira do fracasso e a única coisa boa na minha vida nessa época era a N.T.E.
Mas, como não vivo de música, tive que deixar a cidade do natal no segundo semestre de 2006 e só voltei a morar em Natal novamente no segundo semestre de 2008. Ficamos todo esse tempo parados, que pra mim foi uma eternidade! Não consigo mais viver sem banda.
Ficamos o ano de 2009 ensaiando bastante e montando as músicas da primeira demo que se chama “AGORA”, que foi gravada em 2010. A decisão de considerar a banda só a partir de 2010 foi justamente por causa dessa interrupção. Não adianta muito ficar falando que você possui 20 anos de banda e 15 desses, você não ter feito nada. Nenhuma gravação com músicas autorais, nenhum evento do tipo “Faça você mesmo”, não ter tocado muito por causa do comodismo e zona de conforto, ficando sempre a espera de outros. São por esses motivos que consideramos a banda N.T.E. somente a partir de 2010, pois nesse mesmo tempo, conseguimos gravar a demo “AGORA” , tendo assim um verdadeiro inicio. Se a banda acabasse hoje, teria deixado um pequeno registro na música underground natalense.
Alexandre: A sigla N.T.E significa NEM TODOS ESQUECEM. Antes desse nome a banda possuía o nome de DISTANTES. Teve-se que trocar porque já existia uma banda com esse nome, porém, a ideia do nome N.T.E veio da nossa observação para com as pessoas a nossa volta. Vários episódios hostis acontecem nos bairros periféricos, como agressão física de um machista que espanca e mata a sua esposa, um carroceiro que dá chibatadas em seu burro até o sangue escorrer, moradores de rua que são espancados e assassinados por playboyzinhos safados, uma dona de casa se suicida com veneno de rato por não suportar mais o tédio da vida, pessoas alienadas brigam nas ruas por motivos banais e no dia seguinte ninguém se lembra de nada, ou, finge não lembrar. Até os dias atuais existem pessoas que não sabem o que foi a ditadura militar, como se a maioria dos brasileiros não tivesse passado, apenas presente incerto e futuro incerto. Acredito que um povo sem memórias não poderá melhorar de forma sólida em seu futuro. Lembrando também que existem três filmes nacionais que ajudaram na construção do nome N.T.E, que foram “ ELES NÃO USAM BLACK TIE”, “QUANTO VALE OU É POR QUILO?” E “CRONICAMENTE INVIÁVEL”. Nossas influências vem de filmes undergrounds nacionais, não buscamos apenas música como inspiração, mas, nos artistas de rua, nas comunidades carentes, nas minorias excluídas pela sociedade. As bandas que nos ajudam como influências são: Hino Mortal, Misantropia, Karne Krua, Pastel de miolos, Restos de nada, Cólera, Lixomania, Metropolixo, Pacto social, Rotten flies, D.z.k, subexistência, crass, UK SUBS, devotos, GBH, Inocentes, Os maltrapilhos, Adolescents, Desnutrição, Fear, Lobotomia, Circle jerks, Chaos uk, The adicts, Varukers, Minor threat, Olho seco, D.o.a, Condutores de cadáver, Bad religion, Bad brains, Fogo cruzado, Psykoze, Ratos de porão, Ação direta, Caos 64, Brigada do ódio, Dead kennedys, Detrito federal, Academic worms e agora o Horda punk, Kankro e vocês da Cama de jornal.
Eduardo no Baixo. |
Alexandre: O pelo menos por um instante teve a maioria das músicas voltadas para as nossas dores internas, solidão, vícios, ansiedade, raiva, medo, decepção...foi a nossa demo menos divulgada que ficou praticamente no lance virtual, no qual eu não acho tão legal, pois toda banda precisa de material físico para ser distribuído. As músicas são bem legais. Temos um projeto de regravar todas as músicas de cada demo, não podemos deixar esquecidas aquelas boas músicas que iniciaram nossa história. Precisamos oficializar tudo.
4-No ano seguinte vocês gravaram um CD-r intitulado “o Egoísmo”. Como foi produzido esse material e como foi a distribuição?
Alexandre: Em 2012 conseguimos gravar o CDR Egoísmo, já com o Eduardo no baixo. Digamos que com a entrada dele, a N.T.E ficou mais forte, ele é bastante apaixonado pela cultura musical punk rock. Ele escuta muitas bandas do estilo e de todos os cantos do mundo. Somando essas forças, tivemos mais inspiração e compomos 14 músicas. Fizemos várias cópias e saímos distribuindo pela cidade, fizemos camisetas e daí a banda começou a ser mais vista. Nos preocupamos mais com a mixagem e masterização, foi uma produção mais cuidadosa. Lembrando também que nesse mesmo ano em dezembro fizemos nossa primeira apresentação no CAOSNATAL, evento clássico aqui da cidade, que já tem treze anos.
Os donos das baquetas é o Tadeu. |
Alexandre: Cara, passei tanto tempo esperando por esse momento! 2013 foi um ano muito produtivo pra banda. Gravar e conseguir lançar um cd oficial de fábrica é algo muito satisfatório. Desde 1998 eu tinha esse desejo, quando via uma banda underground com cd prensado, ficava me perguntando como eles conseguiram, se custa tanto dinheiro. Mas, depois percebi que a questão não é somente financeira, mas sim organizacional. Se a banda fizer um planejamento a longo prazo ela consegue. Infelizmente existe ainda muita bandas do cenário underground que acham que por serem undergrounds não precisam lançar nada físico, que quando uma banda consegue lançar ficam com inveja e falando mal. Que pena que o underground ainda tenha esses micróbios. Investir e acreditar em sua banda não é algo fácil.
Falando do título “somos prisioneiros” justamente reflete nossa sociedade medíocre e desinformada, elas são prisioneiras do consumismo desvairado, da ostentação, da falta de interesse por leitura, do comodismo...são tantos aprisionamentos que eu ficaria escrevendo várias folhas. Somos prisioneiros é um titulo forte, realmente. Pena que a maioria das pessoas não conseguem enxergar essa prisão sem muros.
6-Esse disco teve a parceria do Selo Microfonia, de João Pessoa. Como surgiu essa parceria? Como tem sido a receptividade do público e qual a diferença que vocês perceberam em ter sido distribuído por um selo independente, comparando com a época que vocês mesmos distribuíam os Eps e CD-r?
Alexandre: Eu já conhecia o Adriano Stevenson (dono do selo Microfonia) há muitos anos! E certo dia, resolvi enviar 15 cópias do CDR Egoísmo, pra ele. Daí através disso, reativamos o contato, fazendo com que ele se interessasse pela banda. Depois, surgiu o convite para fazermos a gravação do disco “somos prisioneiros” no qual aceitamos com muita alegria.
A receptividade do público tem nos surpreendido! Está além das nossas expectativas. Tanto nós como o selo fazemos uma divulgação pesada, enviando o disco pro Brasil todo. Amigos, bandas, enfim...pra um monte de gente. A vantagem de ter um selo independente é que eles nos ajudam na distribuição, na divulgação...e ajuda com os custos também. Na época que não tínhamos selo e distribuímos por conta própria ficava muito mais difícil. Sempre que se une forças com amigos, se torna mais fácil e até mais prazeroso. Vida longa ao selo Microfonia!
7-Nos fale um pouco sobre os temas das letras da N.T.E.:
Alexandre: Você chegou num ponto chave da entrevista. As letras para mim é a parte mais importante de uma banda. Eu conheço muitas bandas que possuem um grande instrumental, mas que não possuem uma letra consciente, que não toca, que não te passa nada, caindo num vazio, numa estatística de ser “mais uma”. Por outro lado, já ouvi bandas com um instrumental muito simples, mas que as letras preenchem o seu dia e te fortificam. Então é isso, os temas das nossas letras falam do nosso dia-a-dia, das nossas experiências de vida, nossas neuroses, anseios e questionamentos.
8-Como anda a cena de Natal-RN? Existe cooperação entre as bandas? Vocês participam de algum coletivo? O que tem de produtivo por aí?
Alexandre: A cena em Natal anda como sempre, cada um na sua. As vezes rola uma cooperação entre as bandas, mas cada uma no seu nicho. Não participamos não, de nenhum coletivo. Até gostaríamos, mas ainda faltam pessoas que possuam pensamentos semelhantes, pois trabalhar com pessoas que pensam diferente, às vezes atrapalha, ao invés de fazer a coisa andar.
Existem alguns locais onde rolam eventos esporádicos por aqui. Possuímos museus, pinacoteca, shows de artistas locais, artistas de rua e de circo (tropa trupe) temos sebos pela cidade, amigos tatuadores que fazem eventos, teatros... é só procurar que se acha algo pra fazer na cidade.
9-Vocês tem tocado com freqüência? Já tocaram em outras cidades? E em Outros Estados?
Alexandre: Aos poucos os convites vão surgindo, já tocamos em outras cidades e em outros estados. Não tenho muito que falar, pois começamos a rodar agora.
10-Quais os projetos daqui pra frente?
Alexandre: O principal é gravar o segundo cd de estúdio “anatomia da cidade”, e depois tocar bastante pelo país.
11-O espaço é de vocês: Falem o que quiser, divulguem, gritem, agradeçam quem merece agradecimento, reclamem...espaço livre aqui no Tosco Todo!!!
Alexandre: Agradecemos a vc Nem, por se interessar pela N.T.E! valeu amigo!
CONTATOS:
https://www.facebook.comNTE-Nem-Todos-Esquecem
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