quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Três crianças e três acordes - Os Desconhecidos lançam primeiro disco

Não escrevo, aqui no blog, com a frequência que eu gostaria. Mas fico feliz demais quando aparece uma banda que me deixa animado com o punk rock, com o underground. Esse é o caso da banda Os Desconhecidos. Formada por crianças, no interior de São Paulo, começou como uma dupla que gravava vídeos, com a ajuda da mãe e do padrasto, fazendo covers de bandas consagradas como Ratos de Porão, Misfits, dentre outras. A repercussão foi boa, e resolveram colocar a irmã mais nova na banda, formando um trio punk mirim, mas que faz som de gente grande!
Conversei com a garotada e resultou nessa entrevista aí. Espero que gostem, e vida longa ao punk rock! Que o punk, percebe-se, não tem idade!!!
Felipe, Emilly e Dennis-Os Desconhecidos

A banda começou com a dupla de irmãos Felipe e Dennis. Quantos anos cada um tinha e como aprenderam a tocar?
Dennis: No começo da banda eu tinha por volta de 7 anos e o Felipe uns 11. Aprendemos a tocar com o nosso padrasto e pai da Emilly, Enio, que tinha instrumentos musicais. Nos interessamos pela música e queríamos aprender... foi esse o começo de tudo.

Nessa época já tinham a ideia de ser uma banda? E de onde veio o nome “Os Desconhecidos”?
Dennis: Era um sonho que tínhamos desde que fomos aprendendo; já tocávamos alguns covers e tínhamos músicas próprias, o que faltava era um nome.
Felipe: Já pensávamos sobre isso; nossa noção era de que éramos uma “pré-banda”, já que não tínhamos nada gravado e ainda não havíamos feito nenhum show, mas, fora isso, só faltava um nome para sermos uma banda de fato.
O nome surgiu em meio a um ensaio. Tínhamos o costume de registrar os ensaios no celular e em uma dessas gravações percebi que sempre que eu colocava para tocar o áudio, aparecia no nome do arquivo "artista desconhecido", ai então tive a ideia de incorporar isso, daí surgiu "Os Desconhecidos".

Em 2017 entrou Emilly, que tinha só seis anos. Com quem ela aprendeu tocar baixo?
Felipe: Ela, assim como nós, aprendeu a tocar com o Enio e não demorou muito para assumir o cargo de baixista. Sendo assim, Dennis começou a treinar bateria, assumiu as baquetas e ficamos como um trio de irmãos.
Emilly: Desde pequena eu via muitas bandas tocarem em vídeos na internet e acompanhava os ensaios de meus irmãos, por isso senti vontade de tocar também. Meu pai começou a me ensinar baixo e entrei na banda.
Emilly em ação!
A banda começou a ficar conhecida na cena punk depois de postar alguns vídeos de covers de bandas consagradas. Como foi pra vocês esse começo e a receptividade do público?
Dennis: Sempre gostamos muito de escutar punk rock e tínhamos interesse em assumir esse gênero como fundamental pra nós. Então fazíamos covers de bandas punks, principalmente brasileiras, e postávamos no YouTube. Ser reconhecido depois foi algo surreal e super gratificante; o público desde o inicio nos deu o maior apoio, nos recebendo de braços abertos.
Dennis é o garoto das baquetas!
Quando começou a surgir as músicas autorais e quem escreve?
Felipe: Comecei a escrever bem no começo. Tinha por volta de 11 anos quando compus minha primeira letra: "O tempo é o tempo de hoje", uma música que não foi lançada no nosso álbum.
Por coincidência a maior parte das composições é de minha autoria, mas todos escrevemos; até nossa irmãzinha, que começou a compor recentemente.
Felipe (vocal e guitarra)
Aí agora em 2020, em plena pandemia, vocês lançam o disco "Viemos em pás". Falem um pouco sobre a ideia desse título e como foi a produção e gravação do álbum;
Felipe: O nome é um trocadilho com essa frase que é icônica em histórias e filmes de alienígenas e, além disso, também é uma crítica, já que a “paz” só será alcançada com muito trabalho e as “pás”, no titulo, são a representação desse trabalho.
A gravação desse disco foi o nosso primeiro contato com o trabalho em estúdio; foi tudo muito novo e divertido e, é claro, trabalhoso. A gravação em si aconteceu em dois dias, mas o processo todo durou em torno de 11 meses.
Viemos em Pás-Os Desconhecidos
O disco tem uma capa bem bacana. De quem foi a arte?
Emilly: Foi do nosso querido amigo e grande artista, de Pelotas (RS), Sandro Andrade.

Eu achei o album com uma sonoridade bem punk anos 80, um estilo que eu gosto bastante. Foi intencional, ou eu tô falando bobagem?
Felipe: Foi intencional, sim. Grande parte de nossas influências tem esse estilo e isso se refletiu em nossa sonoridade.

"Viemos em pás" tem 19 músicas, inclusive algumas em inglês. Falem um pouco sobre as faixas do disco:
Felipe: Para não me alongar muito vou selecionar algumas faixas. A primeira é “Contaminação”, nela eu tento passar o sentimento de sufocamento por tudo estar de alguma forma "contaminado" ou "poluído", sendo esses poluidores o preconceito, a ignorância, a discriminação... Podendo, o sentido da letra, até ser associado ao Covid-19. “The Clown” é uma das primeiras músicas que escrevi em inglês; fala sobre medo de palhaço. Minha inspiração principal para escrever essa música é a lembrança que tenho de um amigo da pré-escola que morria de medo de palhaço. A ideia também foi fortalecida pelo palhaço que aparece no videoclipe de "Peek-a-boo" do Devo. Outra que acho que merece ser comentada é “I Can't”. É uma homenagem ao Dee Dee Ramone; minha intenção foi a de fazer uma música imitando o estilo de composição dele. Ela é sem dúvidas a maior expressão do quanto os Ramones nos influenciam.
Ouça o disco clicando na tela acima.
Emilly também canta né? Em uma outra entrevista vi que ela falou que tem uma música que vocês fizeram sobre a Anne Frank (mas que não entrou nesse disco). Tem outras faixas também influenciadas por livros que vocês leram?
Felipe: Várias de nossas músicas têm influências vindas da literatura. Outra além da Anne Frank que tem influência direta é “Puppets”, uma música minha que ainda não foi gravada e tem como inspiração o livro “1984” de George Orwell.
Emilly: Estou me acostumando a cantar. Não é fácil, mas aos poucos pego o jeito. Nos próximos discos teremos mais musicas com minha voz. Sobre Anne Frank, ganhei o livro de meu pai e estou lendo, mas a música surgiu antes de eu ler e nós já conhecíamos a história dela, que é muito triste, mas inspiradora; em minha opinião é uma de nossas melhores músicas.
Felipe, Emilly e Dennis- visitam exposição de Anne Frank
Antes da pandemia vocês haviam feito vários shows. Essas músicas do disco já eram executadas ao vivo?
Felipe: Sim, algumas, que eram mais novas, e outras mais antigas que não chegamos a tocar em muitos shows, mas todas as músicas foram executadas ao vivo, em um outro show.
Dennis: Sim, não tínhamos um repertório com muitas músicas próprias, então colocávamos covers e as nossas músicas juntas.

E agora, quais os planos pós pandemia?
Dennis: A primeira coisa que eu vou fazer depois dessa pandemia é ir num show ou fazer um show com todo mundo, para curtir e celebrar o fim da pandemia.
Felipe: Estamos compondo bastante durante a pandemia e planejamos, assim que possível, lançar o próximo álbum, com nossas músicas novas.
Emilly: Quero ir a um parque para andar bastante de bicicleta e aprender patins.

Muito obrigado! Eu fico feliz de ver que o punk rock segue influenciando novas mentes! O espaço é de vocês, para falar o que quiserem ou algo que não foi abordado e achem importante:
Emilly: Em nome da banda quero agradecer e dizer que ficamos muito contentes e felizes pela entrevista. É bom ter espaço para falar e demonstrar o que pensamos, mesmo para quem não conhece ou goste de nossas músicas.
Cuidem da saúde e do próximo, fiquem em casa.
Um grande abraço para todos.
CONTATOS:
(11) 99387-2046
Email: felipeosdesconhecidos@gmail.com