Beto na guitarra do Não & Proliferação |
1-Primeiramente, nos conte um pouco sobre a história da formação da Não & Proliferação? Quando foi que tudo começou?
Beto - Na verdade essa é uma junção de 2 bandas, como na época poucas pessoas tinham tendência ou se identificavam com este tipo de som, acabávamos formando bandas diferente e com integrantes comuns entres as bandas. É uma longa história, que começou em 84 com a formação da Revolta Suburbana na qual eu era guitarrista. Fizemos apenas uma apresentação, abrindo para o Cólera no Forte São Diogo ( Porto da Barra ). Não tinha guitarra e tive o privilégio de tocar com a guitarra do Redson ( uma Giannini Preta com captador humbucking na ponte ) inesquecível. Depois tive a oportunidade de tocar com o Cólera outras vezes aqui em Salvador e em Alagoinhas-Ba.
2-Quais eram as influências naquela época? Como vocês faziam para estar sempre atualizados sobre o punk em Salvador?
O ingresso do show do Cólera era um patch em 1984. |
Beto - Foi uma época muito bacana, não tínhamos a facilidade de hoje, é óbvio. Nós nos encontrávamos na praça da Piedade e na Escola de Comunicação ( UFBA ) para trocarmos idéias e materiais que cada um descolava. Tinha um pessoal mais articulado que trazia material vindo de fora; pela revista Flip Side ou através de contato com algum estrangeiro.
Lembro de ter ouvido Sex Pistols, Black Flag, Dicks, Rattus, Dead Kennedys, DOA, Ramones, Clash, etc. Tudo isso através de fitas cassetes, compactos, LP´s que a moçada trazia de fora. Era um glamour, ver as caixinhas chegando cheias de papel picado e isopor para proteger as fitas e o pessoal abria, ligávamos o toca fita e...cara, de fuder.
Em seguida abriu-se lojas aqui em Salvador que trabalhavam com estes materiais; Not Dead, Hai Kai, Coringa, Bazar, Na Mosca e por aí vai...agora não posso deixar de citar 3 pessoas que tinham as lojas aqui e deram a maior força; Ednilson Sacramento, Jardel e Luiza Maia. Cara, esse pessoal teve a maior influência aqui, inclusive Ednilson e Jardel estavam envolvidos na produção que trouxe o Cólera pela primeira vez.
3-Como era a cena aí, existiam muitos shows?
Beto, Henrique e Dielson formam a Não & Proliferação. |
Beto - Sim, apesar da precariedade de espaços. Sempre aparecia alguns caras que abriam as portas para rolar um som, tinham bandas muito bacanas também. Me recordo de uma banda muito, mais muito de fuder, chamada Homicídio Cultural. Também existiam na época os circos; Troca de Segredos e Relâmpago ( rolou Ratos de Porão e Psykoze / Inocentes aconteceu um pouco depois ).
Proliferação em show na Cidade Baixa-Salvador-BA. |
Beto - Porra cara, sem comentários. Este foi um divisor de águas, pois deixamos de andar nas ruas, as coisas não ficaram muito legais. Nos separamos, cada um foi cuidar da família, neste período todos já estávamos com filhos, o clima ficou bastante tenso. E independente de banda, nessa época estávamos muito ligados uns aos outros, nós éramos muito unidos, uma irmandade mesmo. Muita coisa mudou, que eu saiba ninguem foi punido, mas o bacana é que eles não destruiram os nossos laços, sempre nos encontramos, sempre!!
Dielson na bateria do Não & Proliferação. |
Beto - Na verdade em 2005 voltamos justamente com este intuito de gravar algumas músicas de ambas as bandas para termos um registro da coisa, este era para ser um CD Demo apenas para vermos o que podíamos melhorar, como ficou com a cara que a gente gosta, não lapidamos mais nada neste registro.
O processo foi o seguinte, reservei 3 períodos num estúdio, nós ensaiamos um, o segundo não rolou ( o batera teve problemas e perdemos o horário ) e no terceiro gravamos em uma só tomada, num período de 5 ou 6 horas fizemos tudo.
E antes ensaiamos algumas vezes para relembramos as músicas e organizar as coisas, como nas antigas né, no quartinho da bagunça, aqui em casa.
A produção como sempre independente, reservei uma grana, tirei grana e tempo das férias neste ano disponível para condicionar a gravação deste registro. E foi gratificante, temos centenas de cópias deste registro rodando por aí.
DOWNLOAD AQUI |
Beto - Foi muito bacana, O Lenon Reis nos fez o convite, aí aceitamos na hora. Foi muito bacana tocar lá, parecia que tinha voltado no tempo. O cenário natural daquela área é magnífico.
Projeto Pôr do Sol Hardcore
7-Você tem um projeto chamado "Tapete Voador", que leva música e arte para as ruas. Como surgiu essa idéia e como funciona?
Beto - O Tapete Voador é um projeto itinerante que visa levar um pouco de cultura alternativa as praças públicas, independente de público pré agendado. Funciona na cara, fazer a performance para quem tá passando na hora, tomando de assalto as ruas.
Mostrar nossa música, a arte, a expressão, aquela ação que as pessoas não estão acostumadas a ver e ouvir.
Dediquei muito financeiramente para concepção deste projeto, inclusive neste período não foi feito nenhum registro ( gravação ), pois todo o recurso que tinha foi investido em material para realização do Tapete Voador. E foi bom, pois hoje a banda funciona de forma independente, adquiri uma experiência que hoje posso produzir nossos eventos com a estrutura que temos, sem depender diretamente de terceiros ou atrasa lado ( que é um grande inimigo para nós que fazemos um lance alternativo ).
Projeto Tapete Voador - Foto: Sora Maia |
8-Gostaria que você falasse sobre a diferença da cena dos anos 80 para a cena atual aí em Salvador? O que você anda ouvindo de novo por aí?
Beto - Mudou muita coisa cara, acredito que antes era mais underground, tinha um tesão maior para se ouvir alguma coisa, hoje está bem mais fácil, você ouve o que quer e a hora que quiser, e ainda tem Blootooth ( rs ). Mais isso é bom, sempre preguei pela liberdade, na música, da arte, e hoje está aí.
Porra cara, algo de novo?? É foda. Ouço várias coisas, mais sempre me paro ouvindo, Fear of War, Dead Kennedys, Toy Dolls, Bob Marley, Steel Pulse e Pinky Floyd, é foda.
9-E agora, quais os projetos daqui por diante?
Primeira Edição do Palco do Rock. 18 anos atrás com presença da Não & Proliferação.
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Beto - Divulgar nosso material, fazer shows, e também tenho um projeto de resgatar as gravações perdidas em demo tapes da Não e também da Proliferação, comprei um tape deck e estou preparando um material robusto com toda essa história para distribuir. O tape da Não eu não sei onde coloquei, mas a da Proliferação já encontrei, tem um monte de bagaça aqui no meu quarto, é uma zona, mas sei que está tudo aqui!!!
Agora estamos ensaiando um novo CD ( Provavelmente seja duplo ), a idéia é gravar canções que não registramos ainda, algumas novas e uma parte dedicada a releituras de Bob Marley. Era para agora no segundo semestre, mas tem atrasado um pouco. Sei que todo mundo estranha o fato de termos tanto tempo e não ter material, mais éramos fudidos pra caralho, fudidos mesmos. Tinha bandas que tinham grana, de família de grana e tal, nós éramos ralé mesmo!!!
Hoje as coisas melhoraram pois os meninos já estão grande, tô em um trampo melhor, e dedico parte de minha vida para isso, aliás lembro que sempre nas nossas noitadas e biritadas, nós conversávamos que mesmos quando estivéssemos velhinhos, iríamos encostar as cadeiras, o sofá, botar os guris e a mulher para rua, e íamos fazer o maior som ( rs ), bons tempos...
Henrique Simões-Baixo |
Beto - Agradeço a oportunidade do espaço para divulgar sobre a nossa história e projetos desenvolvidos e mostrar o quanto é importante e satisfatório mantermos a chama acesa de fazer o que gostamos. Segue aí alguns links para quem se interessar em conhecer o nosso trabalho. Valeu, e obrigado a todos!!!
Outros canais com Não & Proliferação:
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Fotolog: http://www.fotolog.com.br/naoproliferacao
Matéria no site Rock Loko: http://rockloco.blogspot.com.br/nao-proliferacao
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