quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Entrevista com o Bruno da banda Lavage

Conversei com o Bruno, vocalista da banda cearense Lavage. A banda já está na estrada há quase 10 anos, e o Bruno nos conta um pouco sobre toda essa trajetória. 
Bruno Lavage - Vocal
1-Primeiramente de onde veio esse nome? E quando resolveram montar a banda?
Bruno - Lavage é uma expressão nordestina para comida de porco. Esse nome veio da mente do primeiro baixista, William, durante um brainstorming nas calçadas da vida. A ideia da banda começou mesmo em meados de 2002 e eu fui reunindo colegas que tocavam algo perto da minha casa. Não deu muito certo no começo, mas tínhamos composto muita coisa. A banda começou mesmo com a entrada do Rogério Ramos na bateria. Era março de 2003. Daí em diante, passamos a ensaiar, tocar e gravar. Ou seja, passamos a levar o passatempo a sério e caímos de cabeça no mundo do underground de Fortaleza.
Banda Lavage direto de Fortaleza-CE.
2-Como era a cena naquela época em Fortaleza? E hoje em dia, melhorou ou piorou?
Bruno - Era uma cena muito legal, com muito entusiasmo e muitas bandas boas. Só não tínhamos a presença tão forte da internet pra ajudar a congregar a galera, divulgar bandas e eventos e trocar informações. Atualmente a net oferece uma plataforma de divulgação muito boa para quem está começando. Além disso, as bandas hoje em dia já começam com uma consciência diferente e um nível de profissionalismo alto. Por outro lado, essas facilidades deixam o pessoal meio acomodado às vezes, achando que apenas o mundo virtual pode sustentar a banda, quando na verdade, o mais importante é meter as caras e sair pra tocar e conhecer o mundo e as pessoas.

3-Quais bandas cearenses você indicaria para os leitores do Tosco Todo?
Bruno - A cena cearense tem bandas excelentes em todos os estilos que você observar. No indie, temos a galera da Selvagens à Procura de Lei. No metal extremo tem uma pá de bandas boas: Encéfalo, Clamus, Obskure, Inonsense, Betrayal e por aí vai. No campo do punk/HC, a galera da Thrunda e Chicones tem feito um trabalho muito bom e temos nos encontrado bastante nas gigs. Pra quem curte algo mais hard, a Full Time Rockers é uma boa pedida. Enfim, a cena daqui é bem variada e as bandas possuem um nível muito bom.

4-Em 2005 a banda lança o primeiro trampo chamado simplesmente "Lavage". Como foi a concepção desse material? Era um disco bem punk esse, né?
Bruno - Tínhamos gravado uma demo muito tosca em 2003, com pouco mais de três meses de ensaios e o resultado ficou abaixo do esperado. Tocamos esse repertório exaustivamente e sentimos que faltava algo. Compomos onze faixas inéditas e fomos para o estúdio. Apesar das deficiências técnicas, conseguimos gravar um material que serviu como referência estética (pra nós) e que abriu portas para festivais maiores, como a Feira da Música de Fortaleza de 2005.
Sem dúvida, as distorções estavam no talo e o vocal muito “podre”. Eu detestava ouvir minha voz normalmente, daí eu inventei um jeito de disfarçar minha voz. Na verdade, eu ainda estava procurando um estilo de interpretação que me deixasse satisfeito e que tivesse o mínimo de originalidade. Botamos uns solos na fase final do disco, após a entrada do Taumaturgo na guitarra solo e isso, de certa forma, melhorou o trabalho das guitarras. O guitarrista base (Wellington) não tinha noção de teoria musical, então tudo que criávamos era bem sujo e agressivo. O Tauma trouxe um pouco mais de refinamento com uns solos e riffs mais “trabalhados”.
Baixar a Primeira Demo da Lavage-2005
5-Já em 2007 a Lavage lança a demo "Consumocracia", que já apresentava algumas pequenas mudanças no som, mas com as letras permanecendo pelo punk rock. Era a mesma formação do primeiro disco?
Bruno - Não, nesse período trocamos de guitarrista e baixista. O guitarrista original foi assassinado numa tentativa de assalto no Carnaval de 2005, poucos dias depois do fim da mixagem do primeiro disco. O irmão dele tocava baixo conosco, mas depois pediu pra sair porque não aguentou a barra. Estávamos passando por momentos difíceis e pensei muito em acabar com a banda. Por sorte, o projeto tinha crescido e atraído a atenção de muita gente. Não faltaram pessoas se candidatando pra tocar. No “Consumocracia”, tivemos baixos gravados pelo Daniel Queiroz e pelo Rafael Maia, que tá com a gente até hoje. As guitarras ficaram por conta do Tauma e do novo guitarrista, Everardo Maia, outro que permanece nas fileiras até hoje. Com dois guitarristas muito bons, elevamos o nível do trabalho nessa parte e colocamos por terra essa história de guitarrista base e solo, posto que ambos tinham liberdade para fazer o que quisessem.
Esse disco foi um dos mais confusos e as faixas não dialogam entre si para formar um todo homogêneo. Mas talvez essa falta de unidade seja uma marca do nosso trabalho. Nesse campo, a gente tenta seguir os passos do Clash e não deixar que o rótulo punk reduza nossas possibilidades estéticas. Ou seja, tocamos o que der na telha.
Baixar Consumocracia-2007
6- No album "krisis" de 2008, a banda continua na linha do primeiro disco, punk rock, com letras diretas. E nesse disco já dava pra perceber uma identidade na banda. Como foi o caminho para alcançarem isso?
Bruno - O entrosamento é fruto dos shows e da vivência na cena. As coisas não são muito planejadas nesse quesito. Não pensamos o conceito do álbum para depois compor as músicas. A produção vai fluindo naturalmente, a gente grava e lança o material.
Baixar Krisis-2008
7-A Lavage já dividiu o palco com bandas consagradas da cena basileira como Mundo Livre S.A., Zefirina Bomba, Marcelo Nova, Plebe Rude, entre outros. Mas qual foi o show inesquecível?
Bruno - O show memorável foi na terrinha (Salvador) no Palco do Rock de 2009. Praia de Piatã lotada, mais de 10 mil pessoas por lá curtindo rock em pleno Carnaval. Subimos no palco depois do Plebe Rude e botamos a galera pra pogar, inspirados pelos nossos heróis de Brasília. Eu lembrei minha adolescência, quando eu ouvia o vinil “O concreto já rachou” e fiquei viajando. Nenhum sonho louco meu daria conta de que um dia eu iria dividir o palco com eles. Foi uma noite épica.
Lavage no Festival Palco do Rock de Salvador-BA-2009
8-Ano passado a banda lançou seu mais recente trabalho, o CD "Punk Pop?". O título já era uma pista da mudança no som da banda ou foi simplesmente uma provocação aos punks radicais de plantão?
Bruno - Primeiro, a gente tá realmente tirando um sarro com esse conceito de “pop punk”, que a mídia usa pra classificar o som de bandas como Blink 182, Good Charlote e por aí vai. Eu acho uma classificação tremendamente infeliz. Por outro lado, quem conhece a história do punk, sabe que a turma lá dos Ramones e companhia se inspirou bastante no pop e no rock das décadas de 50 e 60 pra fazer o som deles. Então, essa fronteira entre punk e pop é meio fina. De mais a mais, a gente quer apenas tocar sem se preocupar com o que vão achar ou qual classificação vão dar. Temos quase dez anos nessa história, então acho que podemos nos permitir isso, não acha?
Baixar Punk Pop?-2011
9-Na sua concepção, o que vem a ser um cara punk rock de verdade?
Bruno - Um genuíno punk rocker tem uma postura crítica e sarcástica com relação à vida. Questiona as coisas e se indigna com o que está errado. Mais que isso, faz algo pra mudar as coisas das quais não gosta. Um punk rocker de verdade não se reduz às bandas que conhece e procura ter atitudes libertárias no cotidiano.
Clipe da música "Olhar Chapado"
10-A Lavage tambem grava músicas em inglês. Qual o objetivo dessas gravações? Pensam em uma carreira internacional?
Bruno - A gente faz isso pra tentar facilitar a entrada do som em sites gringos, onde o idioma oficial é o inglês. Mas não há uma profunda proposta mercadológica nisso. É só uma tentativa de adequar melhor nossa comunicação com quem não fala português.
Clipe da música "No longer"
11-Hoje a banda passeia entre o punk rock e o indie. Qual a atual formação e o que a galera da Lavage anda ouvindo ultimamente?
Bruno - A escalação do time é: Bruno Andrade (vocal), Rafael Maia (baixo), Everardo Maia (guitarra) e Rogério Ramos (bateria). Escutamos sons muito diferentes e isso, indiretamente, se reflete no som que fazemos. Eu escuto muito indie rock e punk. Ultimamente to parado nos trabalhos novos do The Hives, The Vaccines, Gogol Bordello e Muse. O baixista tá vivendo uma fase reggae roots. O Rogério escuta muita coisa nacional e os clássicos internacionais. Ele não se liga muito em ouvir os sons “da moda”. Já o Everas passou da fase metal para uma fase pop, ouvindo Snow Patrol, Maroon 5 e outras bandas da atualidade. Tô encorajando ele a ouvir o trampo novo do Bloc Party para sacar umas estripulias novas com os pedais.
Lavage é: Rafael (baixo), Bruno (vocal), Everardo (guitarra) e Rogério (bateria)
12-E agora, quais os próximos projetos? Algum disco novo a caminho? E shows, andam fazendo com frequência?
Bruno - Em outubro, tocamos no maior festival de música do Ceará, o Ceará Music. Dividimos o palco com peixes grandes do rock nacional e internacional. Estamos gravando o quinto álbum, comemorativo aos 10 anos de grupo, que devemos lançar no início de 2013. Os shows tão aparecendo bastante no segundo semestre e vamos nos desdobrar pra tocar, gravar, ensaiar e viver nossas vidas como sempre fizemos. Queremos dar uma viajada pelo Nordeste divulgando o álbum no ano que vem.

13-Véio, valeu pela atenção!!! O espaço é da Lavage!!!
Bruno - Obrigado pelo espaço pra divulgar nosso trabalho. Se liguem na galera da Tosco Todo e em toda a cena underground do Nordeste porque estamos fazendo um belo trabalho. Acessem o Google, digitem “Banda Lavage” e conheçam melhor nossa história de vida e nosso trabalho.


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