sexta-feira, 4 de abril de 2014

Entrevista com o Mário da Garrafa Vazia

Depois de uma pausa, volto com as entrevistas no blog Tosco Todo. O papo de hoje, é com o Mário Mariones e o Hebert da banda Garrafa Vazia, da cidade de Rio Claro, interior de São Paulo.
Saca a conversa aí!!!
Mário Mariones
1-Minha curiosidade inicial é de onde tiraram esse nome? Eu acredito que tenha algo a ver com álcool, rock e ressaca...é isso, ou não?
Mário-O nome é bem escrachado. Teve dois significados. Primeiro é que na época enchíamos o pote nos ensaios, e a cachaça era sagrada. Outra coisa é a expressão "Garrafa Vazia". Lembro-me que eu costumava muito rever uma velha fita vhs em que meu cunhado gravara um resumo da Copa do Mundo de 1990. Nós jogávamos futebol de botão naquela época, críavamos os times com jogadores fictícios (lembro bastante das seleções com botões ‘improvisados’ de Burkina Faso, Zimbábue, Costa do Marfim, Egito e Japão, inclusive) e eu assistia muito à fita da Copa da Itália. Eu praticamente decorei algumas partes. Uma das grandes atrações era rever as partidas transmitidas pela TV Manchete.Era muito bacana. Inclusive eles mostravam os melhores momentos do primeiro tempo e do segundo tempo.
Bom, indo direto ao assunto, apresentando as equipes nas oitavas-de-final entre Camarões e Colômbia, jogo eliminatório, o célebre narrador Osmar Santos soltou essa: "Agora é que eu quero ver quem tem Garrafa Vazia pra vender”. A expressão chamou a atenção, pelo DEBOCHE contido nas entrelinhas, afinal a condição humana sofre da contigência da finitude, porra, todo mundo aí se matando de graça, e todos fatais candidatos à sumirem como velhas garrafas vazias no fundo do quintal do Plínio Maurício.
Mas a verdade também é que aquele o jogo foi histórico, Roger Milla e Higuita que o digam!
Nem, às vezes penso que Garrafa Vazia também tem um pouco do niilismo do Bukowski, quando a gente sabe da fudida condição humana, da angústia das escolhas, do humano como lixo descartável na era da masturbação - e porra, também eu parei de beber, então a Garrafa tá Vazia tem uns quatro anos quase.

2-Teve uma época que a banda tinha outro nome e tal. O que aconteceu?
Mário-Comecei a tocar em 1998, com o Danilão (bateria). A gente tirava um som, foi conhecendo uns parceiros. Primeiramente a banda chamava-se Beck Ronalds. Tocávamos "Fuder Geral", "Estudar pra quê?" e gravávamos os ensaios em fitas K7. Mais bebíamos que tocávamos. Mas em 2002, eu acho, entrou Ramon Satanás no baixo, eu e o Frankin fazíamos as guitarras( Frankin também amigão das antigas) e o Danilão na banda e fixamos o nome de Bad Trip. O problema é que já existia uma banda com esse nome. Então ficou Bad Bad Trip. No pouco tempo que durou a banda até 2004 (muito guaraná do capeta) gravamos duas músicas pra sair numa coletânea que nunca saiu, diziam que teria bandas de “renome ” do underground da época, mas o certo é que não saiu porra nenhuma. Então tocamos por alguns lugares aí: Rio Claro, é claro,Santa Gertrudes (com o Dezakato, banda que nós respeitamos muito e vemos como referência, Dezakato que fez história como um grande nome do hardcore dos anos 90), Limeira (fiasco de apresentação totalmente trêbada, haha) Sumaré e Campinas, no Bar do Zé, antes de ser reformado.
Aí eu saí fora mas os caras continuaram, mas em 2009 voltei a fazer uma sonzera com a rapaziada.
Reformulamos pro punk rock cru e direto, que era nossa cara, sempre foi, com letras em português bem escrachadas, letras curtas.

3-Então a Garrafa Vazia surgiu de fato em 2009?
Mário-Sim! No final de 2009. O Garrafa é de 2009.
Formação atual da esq. p/ dir.: Hebert (guit/voz), Vadio (Bat.) e Mário (Baixo/voz)
4-E o primeiro registro? Como rolou a primeira demo?
Mário-Eu descolei um bico como locutor das Lojas Cem. Com essa grana, bancamos o estúdio. Gastamos 200 reais e gravamos quatro sons.

5-De lá pra cá, muitos shows rolaram, com bandas consagradas como Cólera, Excomungados, Invasores de Cérebros, dentre outras. Quais vocês nunca mais se esquecerão? E como é tocar com essa galera?
Mário-Pô, foi massa demais. Com o Cólera foi em 2010, no Araraquara Rock, uma puta estrutura, Teatro de Arena, uns puta telões, mó pessoal pogando. Ver o Cólera ao final do dia foi animal. O Rédson inclusive ficou de produzir um trampo nosso, na época. Todos os caras muitos humildes, puta astral positivão, sem frescura.
Outro shows com as bandas veteranas que eu destaco foi tocar pela segunda vez com o Excomungados, num festival “Nojento Rock Fest” em Santa Gertrudes, inclusive na mesma noite teve o Sarjeta também. Sintonia total. Os caras são anárquicos e não estão nem aí pra nada, ligam o foda-se - sempre ironizando a hipocrisia reinante e mandando o punk rock cru em sua essência. Muito louco.
E dia desses rolaram também duas experiências bacanas; tocar com o Periferia SA, que foi simplesmente uma aula de hardcore punk: Jão e Jabá são caras que mandam muito bem a sonzera,e são humildes, o Jabá diz que "não fazem show, tocam entre amigos". O clima é de total descontração.
E recentemente tocamos também com o 88 Não! na Amizade Tour em Tatuí e foi demais! O Daniel, batera da banda, é gente fina demais, figuraça, e de quebra, no mesmo dia tocamos pela segunda vez com a Antibanda do Uruguai, muito massa, gostamos muito inclusive do punk rock latinoamericano.
E ah: tocar com o GBH no ano passado foi foda demais também.

6-Sendo vocês uma banda do interior de São Paulo, deve ser bem mais difícil conseguir tudo isso, não é? Como anda a cena não só aí em Rio Claro, mas também no interior de São Paulo?
Mário-Sim e não. Acho que não é bem essa a questão. Não ficamos presos a um lugar ou outro, centros específicos ou guetos. Especificamente aqui na cidade, Rio Claro teve muitas bandas fodas, como o Mordeth, o Dezakato. Ultimamente tem ótimas bandas também.
Eu particularmente gosto do Carniceiro, que faz um “metal vira-lata” com letras em português, “verdadeiro chute no ass do abadá chicleteiro, eis o violento Carniceiro”. São caras que são das antigas, que quando era mais novo colava no coreto , na praça pra ouvir o som. O Elias (guitarra) e o Borbo (bateria) organizam também o Equinócio, festival que é referência aqui na região, de caratér solidário. No ano passado tivemos a oportunidade de tocar, junto com o Carniceiro e várias bandas legais, com o Ratos de Porão fechando a noite. O Festival vai completar dez anos e já trouxe Korzus, Krisiun, Claustrofobia, RxDxP, e muitas bandas muito fodas aqui da região!
Tem também o Anguere, Sinaya, Interceptor, todo mundo na correria e mandando um som bala!
O interior em certo sentido é bem unido e forte. Na minha humilde opinião, muitas das bandas tem muita personalidade e é sempre um bailão divertido dividir o palco com elas, principalmente às que vão para celebrar, sem juízos equivocados, apenas vão pelas pessoas, pela amizade, pelo som - sem preguiça de pensar e interagir, na simplicidade total.
Somos eternamente gratos ao Hippies not Dead, banda fudida de São Carlos, nossos irmãos. O Hugo Brito fundou a banda em 1995, nunca se fechou em nenhum gueto e conhecer ele, a galera do Ação Tóxica (banda fudida de hardcore formada em 2004 em Porto Ferreira) deu uma nova vida ao Garrafa Vazia, porque o Hippies not Dead vive o underground de maneira real, sem frescura e sempre aprendemos muito com a sonzera deles, com a atitude, vamos rolar vários sons juntos ainda, assim nós esperamos!
Eu gosto de ouvir bastante também o punk podrão do Grotesque de Mogi Guaçu e o punk rock clássico do Ratazana, de Cerqueira César, além do Violent Illusion, crossover nervoso lá de São Carlos também! No interior, em geral, o climão é de paz e a tosqueira rola solta, sem treta e pose, discursinho demagogo de quinta categoria – bom, isso pelo menos onde a gente costuma tocar!
Na capital e no ABC rola também, mas ultimamente temos mais feitos uns bailões aqui por estas cercanias. Nesse vídeo você pode conferir um pouco como anda a cena do interior:

 7-Como vocês fazem para gravar e distribuir os materias da banda? Existe apoio de algum selo?
Mário-Tudo na raça. Conhecemos o pessoal de alguns selos, temos alguns parceiros, sempre participamos de coletâneas, mas lançamos tudo DIY, ao máximo. Gostamos de nos corresponder com o pessoal, ouvir as paradas, rolar aquele escambo, esquema de brodagem.
O responsável pela identidade visual da banda é o Hebert (guitarrista/vocais). Minha namorada cuida de parte do merchandising, a gente se corresponde com a galera, rolam os convites pra coletâneas, algumas gringas inclusive.
No começo gravávamos em Rio Claro, depois mudamos de cidade. E deixamos o som mais com a nossa cara. A partir do disco Pedrerage Sessions #01 passamos a gravar numa cidade vizinha, indicação de um camarada. Rolou por um preço acessível, com um equipo legal disponível lá pra gente, sem "custo de aluguel" ou coisa do tipo, tudo num esquema de camaradagem.
Geralmente gravamos ao vivo, quase não adicionando dub. Acho mais massa assim, a pegada do take, a energia de tocar ao vivo, toda diversão ali no momento, com suas imperfeições também.
Para o próximo disco vamos gravar em um novo local, o disco chamará Back to Bacana e já temos outro disco de inéditas engatilhado na sequência também!
Galera ajudando na divulgação da Garrafa Vazia
 8-Vocês já tem uma discografia bacana. Passa pra galera a lista completa aí, com o ano de cada lançamento:
Mário-Opa, valeu Nem!
Então, a gente costuma dividir o Garrafa Vazia em duas eras.
A primeira é a era das demos, com a formação antiga:
Garrafa Vazia (2009)
Aracy com y é bem mais legal (2010)
Elevadores são o lar de palhaços e mortos-vivos(2010)
O que restou da rua 1(2011).
Em maio de 2011 estabelecemos a formação definitiva do Garrafa. Somos uma família. Com a entrada do Vadio na bateria, (eu toco o baixo e canto), juntamente do Hebert na guitarra e cantando alguns dos sons achamos a sintonia perfeita e então gravamos:
"Os Garrafa" (2011)
Pedrerage Sessions #01 (2012)
Download AQUI
 Greatest Shits (2013 - com 27 sons)
Download AQUI
e no final de 2013 gravamos o split com uma banda que é uma puta influência pra nós, como anteriormente eu disse! Ela nos revitalizou musicalmente e filosoficamente, em termos de viver o underground - falo nossos irmãos do Hippies not Dead, banda de São Carlos, desde 1995 na ativa, abração ao Hugo Brito, nosso irmão, valeu demais!
Vadio é o dono das baquetas da Garrafa Vazia
 9-O split é o mais recente. Como anda a divulgação e repercussão desse material?
Mário-Estamos divulgando legal, levando pras gigs, o pessoal tem comprado e escutando bastante no YouTube também, se ligando, e alguns cantando e pedindo as músicas nos shows, o que é legal pra caralho.
Quanto à divulgação, é de boa, no faça você mesmo, no boca a boca, na raça.
O split ganhou destaque na capa da web Rádio Ponto Alternativo de Fortaleza, que é uma rádio que sempre nos deu uma força e também uma resenha bacana do blog Licor de Chorume de Goiânia.
Pretendemos enviar o split para vários zines e lugares por aí, com a correria tudo mundo trampando fica meio difícil concilar às vezes.
E também rolou algo bacana da gente participar de alguns programas de rádio, como da Rádio Ufscar com o “Versões Exclusivas” – valeu Matheus e Rafael do Krokodil lá de São Carlos pelo convite!
Também o Beto Feitosa (Rádio Xingo FM – A Força do Sertão) dá sempre uma força pra gente no programa “Pedras que Rolam”. Muito bacana. Valeu, Betão!
Acontece um fato interessante também. Além das músicas inéditas, nós gravamos uma música do Hippies not Dead ("Toca uma pra mim", um clássico deles) e eles gravaram uma nossa, "Cirrose". E daí às vezes acontece do pessoal pedir os sons de uma banda na hora em que a outra está tocando, por exemplo, e é muito legal, um clima de irmandade, as bandas tocando os sons, insanidade total, muito massa, somos partes de uma família, é um momento muito gratificante estar vivo e fazendo o que a gente curte, é apaixonante de verdade.

10-Pra vocês, o que falta na cena underground brasileira?
Mário-Passa a bola para o Hebert:
Hebert-O que muitas vezes falta é vontade. Vontade de agir, de produzir, de fazer algo diferente, de se mover a favor daquilo que gosta e acredita. Muita gente reclama de coisas como falta de espaço, de reconhecimento e afins - enquanto a vida passa numa chamada do YouTube. Isso sempre rolou, e sempre irá rolar, senão não seria underground. Humildade, camaradagem e tesão pelo que faz são regras primordiais pra quem quer viver a cena.
Hebert
 11-E o que faz vocês continuarem no underground, gravando, tocando, viajando?
Mário-A alegria.
12-O espaço do Tosco Todo é de vocês. Deixem contatos e falem o que quiserem:
Mário-Em primeiro lugar, obrigado Nem, pela oportunidade. Cama de Jornal é foda pra caralho, puta referência pra gente!
E seguinte: pessoal, tamos aí na luta! Quem quiser um cdzinho nosso é só dar um alô pelo Facebook que a gente dá um jeito de enviar via correio. Qualquer dúvida só mandar um email pra nóis também: mariomariones@gmail.com ou garrafacontato@gmail.com
A vida é um velho refrão 77, que não pode ser levada a sério demais sendo desperdiçada com mimimi da quinta-série.
Eu coleciono pedregulhos – morar no campo é a voz do sim.
A força da amizade e o amor e lealdade pelo que se faz com prazer, taí um troço bacana.
A capacidade de indignação será sempre alento e combustão, e foda-se os covardes e os doutrinadores de internet. Ler e reler será sempre uma cocaína moral insubstituível.
E porra: valeu a todo pessoal gente fina aí que tá com nóis na longa jornada tosquera adentro e obrigado pela força e simpatia, chefia - tamo junto irmandade! Abração dos Garrafa Vazia!
Segue 2 vídeos da Garrafa Vazia.
Meio Marmitex:

Punk do Mato:

Canal de vídeos no You Tube:
https://www.youtube.com/user/rioclaropunk
Para ouvir o split com o Hippies not Dead, onde cada banda no final toca um som da outra:

5 comentários:

Clave do Rock disse...

Eu acompanho essa banda desde o embrião pré Garrafa, portanto, sou testemunha viva da superação de Mario Mariones, assim como a crescente projeção da banda e é por essas e outras que estamos juntos a mais de 10 anos !

Unknown disse...

Sempre na ativa!

Beto Feitosa disse...

Garrafa Vazia é exemplo de luta e superação, mostra como é o "Faça você mesmo", parabéns pelos modão, me fez agitar/pogar como nos anos 80'!

Anônimo disse...

Muito bom Parabéns!!!
Thiagão Ação Tóxica

Unknown disse...

O que eu posso dizer? Esses são os caras! tão aí fazendo uma musica de qualidade passando 'A' mensagem, só fico contente em ser fã desses caras quase desde antes de sair o primeiro trabalho e vou ser fã e apoiá-los por muito tempo, até o fim... GO Garrafas!!!