O papo de hoje é com o Popeye, vocalista da banda de horror punk potiguar Sertão Sangrento. Com 13 anos de estrada, eles lançaram no ano passado o primeiro CD chamado "Vidas Secas". E além de falar sobre esse lançamento, Popeye falou também sobre a trajetória da banda, cena nacional, influências e muito mais. Confira e ouça faixas do CD!
Popeye-Vocalista da Sertão Sangrento |
A Sertão Sangrento surgiu em 2004. Quais foram as referências para vocês montarem uma banda de horror punk no Rio Grande do Norte?
Popeye-Ramones e Misfits e, em menor escala, Zumbis do Espaço. Já tínhamos todos tocado em bandas antes, inclusive juntos. Depois de muita cachaça o pessoal resolveu montar o Sertão com o intuito de engrossar as fileiras do horror punk nacional, já que naquela época eram poucas bandas.
Vocês são de Caicó-RN. Como era a cena por aí naquela época? Existiam outras bandas do mesmo estilo de vocês?
Popeye-Naquela época só tínhamos de horror punk em nosso minúsculo estado os Inquisidores, de Areia Branca. Nós surgimos depois, embalados pelos filmes de terror. E eu surgi depois ainda, em 2008. A banda mudou de vocalista e só, e de lá para cá eu tenho segurado esse trampo desde então.
Nossa cidade sempre foi movimentada quando o assunto é rock n roll. Existiam várias bandas, nenhuma de horror punk, porém todas muito boas, e acho que nós conseguimos influenciar bastante gente que nunca tinham ouvido falar no estilo por aqui.
Sobre a temática das letras de bandas de horror punk, que falam muito sobre mortes, massacres, muito sangue e tal, eu me lembro uma vez, em uma entrevista o vocalista Tor, do Zumbis do Espaço, falou que fazer uma letra desse tipo era como escrever um roteiro de um filme ou de uma história em quadrinho, que não era pra inguém ficar levando isso ao pé da letra. Mas no trabalho de vocês existe uma preocupação também com o cenário de descaso e morte na população nordestina. O que você tem a dizer sobre isso?
Popeye-Antes de tudo somos uma banda Punk, e a indignação, querendo ou não, acaba se fazendo presente nas letras, e isso sempre foi uma marca profunda de nossa banda. O lance do Zumbis do Espaço é mais inofensivo, tem a ver mais com diversão, e somente agora, a partir do álbum “Circo da Fé”, é que podemos notar algumas pequenas alfinetadas em suas letras, e falando nisso, eu nem considero muito o Zumbis do Espaço uma banda horror punk de verdade, eles estão mais para Rock n Roll, como o Tor mesmo sempre fez questão de dizer e de se afastar dessa cena que eles nem conhecem e nem ajudaram a crescer e se desenvolver. Já o nosso som, é mais perigoso, somos uma banda perigosa! Falamos de filmes de terror, mas em nossas letras vocês podem achar uma critica embutida que certamente deve desagradar alguns. Já em relação as músicas horror punk propriamente ditas, com monstros e assassinato, claro e evidente que não sairemos por ai fazendo coisas desse tipo, ao menos por enquanto...
Sertão Sangrento é: Death (Baixo), Ely (Guitarra), Markim (Bateria), Popeye (Vocal) |
O CD tem o título de "Vidas Secas", que eu acredito que seja influenciado pelo romance de Graciliano Ramos, que retratava a familia de um vaqueiro em retirada do seu território, em busca de uma vida melhor para sua família. Qual o paralelo que podemos fazer entre aquela população rural do romance, ao conceito do CD de vocês?
Popeye-A música “Vidas Secas”, que dá nome ao álbum, e que inspirou a capa do nosso CD, pode responder essa pergunta. Ainda moramos no sertão, assolado ainda pela seca. Estamos passando por uma seca enorme, inclusive, desde o ano de 2011. Pouquíssimas chuvas, carcaças de animais na beira das estradas. A poucos dias eu fiquei mais de uma semana sem água em casa, tomando banho de “cuia”. O agricultor passando necessidade e o êxodo rural se repetindo. Os senhores de idade no interior ainda procuram cacimbas para aplacar a sede e crianças ainda morrem de fome. Você falou que o Tor disse que as letras do horror eram como a criação de um roteiro. Bem, está ai um baita de um roteiro de horror. O Glauber Rocha adoraria!
Ouvindo as faixas que a banda disponibilizou na internet, eu senti, em um momento, uma semelhança com o trabalho do Karne Krua, que também é uma banda nordestina, de hardcore, da cidade de Aracaju-SE, e que também fala muito sobre a situação do nordestino, mostrando a realidade que muitos não conseguem ver. Qual a mportância de trabalhos como esse de vocês e do Karne Krua, pra cena nacional?
Popeye-Eu sou um grande fã do Karne Krua, inclusive verei o show deles em março, juntamente com o GBH, e terei oportunidade de falar ao vocalista como a banda dele é legal e influente para muitas gerações de amantes do punk rock. Falar sobre esses assuntos, mesmo que os ricos e essa nova e asquerosa classe reacionária não gostem, é de extrema importância. As coisas não estão legais! Muito precisa ser mudado, esse rebanho de safados amantes do bolsonazi terão que escutar!
Vocês já tinham lançado um EP em 2010, mas o "Vidas Secas" é o primeiro trabalho em CD, e foi lançado pelo selo Microfonia. Como foi a produção desse material?
Popeye-Foi difícil. Gravamos tudo em 2015, mas só lançamos no ano de 2016 graças ao Adriano, guitarra do RottenFlies, e a Olga. Ambos comandam o Microfonia. Convidamos o Rotten Flies para tocar em Caicó, e no pós-rolê, regado a muita birita, lançamos a proposta para o Adriano, que ouviu o cd gravado dias depois e nos convidou para fazermos parte do Microfonia, selo extremamente profissional da Paraíba. Também conseguimos o apoio do selo “Universo Horror Punk”, de São Paulo. Depois de meses de espera tivemos o prazer de receber o disco em nossas mãos na ocasião do lançamento em João Pessoa, e ficou lindo!
A capa foi desenvolvida pelo Wendell Nark, um grande artista de Recife-PE. Qual foi o conceito que vocês pediram para que ele retratasse?
Popeye-Conheço o Wendell das antigas, de salas de punk rock no Mirc, trocamos muitas ideias das antigas e nos encontrávamos nos pogos do Abril Pro Rock (risos). Quando veio a oportunidade de lançar o CD, falei logo com ele, enviei a música “Vidas Secas” para ele sacar e disse mais ou menos a ideia que queria para o álbum, que seria a de retirantes que parecessem zumbis em uma romaria macabra rumo a um ídolo cristão deturpado, que pensei que seria a Virgem Maria, mas dai parece que ele pegou minha ideia e multiplicou por mil, e no fim saiu essa capa linda. Botou logo o cristo com uma caveira de boi no lugar da cabeça e uma conjunção astral agourenta.
Falando agora sobre a cena Horror Punk brasileira? Como anda? Quais as referências para vocês do estilo no Brasil?
Popeye-A cena continua pequena, e ainda tem panaca que abre a boca pra dizer que virou moda. Se tivermos 30 bandas de horror punk em atividade atualmente em todo território nacional, é muito. Isso é moda de onde?
As bandas em sua maioria são unidas, uma ajuda a outra. Claro que existe um ou outro desafeto em busca de fama, mas no geral somos praticamente irmãos. As bandas divulgam materiais umas das outras, o pessoal promove shows e assim vai.
Bandas nacionais que com certeza eu indico, e que estão em plena atividade são: Pesadelo Brasileiro e Difunteria (SP), Rádio Cadáver e Mary Zombie(PR), Cães Sarnentos (CE), Riveros e Inquisidores (RN), Dead Live (AM) e o Esquife (RS).
E agora, tem rolado muito convite para shows? Quais os planos? Turnê? Novo CD?
Popeye-Convites rolam de todos os lados, mas o undeground é difícil. Sabemos que para conseguirmos tocar de norte a sul teremos que armar a tour nós mesmo, procurar casas de shows e sair tocando durante um mês inteiro. Várias bandas amigas nossas já fazem isso a bastante tempo, e eu mesmo já ajudei a armar alguns shows por aqui de bandas que estão saindo do sudeste e vindo pra cá, portanto sei bem como é. É difícil para nós, mas não impossível. Vontade temos!
Sobre um novo cd, claro que vamos lançar, e já temos mais de 20 músicas prontas e o nome do próximo álbum também, mas por enquanto estamos focados em divulgar e escoar os CDs que temos, e isso pode levar um tempo.
O espaço é de vocês pra falarem sobre o que quiserem, ou sobre algo que não foi abordado até aqui, pode falar:
Popeye-Juntem-se a nós, façam uma banda horror punk! Não se preocupem com visual, isso é coisa de banda gringa. O nosso horror punk nacional é único, diferente de qualquer outro no mundo, e temos muito a nos orgulhar, e ainda muita coisa a fazer. Vejam bons filmes de terror e leiam livros e HQs. Preocupem-se em fazer músicas de qualidade, o resto virá, mais cedo ou mais tarde!
AO INFERNO, SENHORES!!
Contatos:.
5 comentários:
Esses caras foram a minha influência para montar minha banda Efeito Morfina depois que os vi em ação fiquei meio que em choque porque eu nunca tinha visto um show de uma Banda de horro punk já conhecia o Misfits, The Calabresses, O Misfet's que no caso é uma banda itregada só por três caras muito gordos que usam o devil luck de Jarry Only... tanto quanto as bandas BR do gênero, como o Nekrotério, Zumbis do Espaço e o dead Live na época... mas as influências foi o Sangrianismo de Patos e o Sertão Sangrento
Obs: não cheguei a ver o Sangrianismo em ação mas as letras de suas músicas foram fodas... que foi mais que o suficiente para eu poder ter idéia de como começar.
O trabalho VIDAS SECAS é a evolução de anos e anos da banda Sertão Sangrento, o Underground esta bem servido com um trabalho solido de um estilo que tem tudo para invadir as mentes dos amantes do rock. O Horror Nacional esta bem representado com o SS, conheço o trabalho da banda desdo primórdios... Eles estão de parabéns e o nosso undergroundo ganhou mais um trabalho de ponta!!
João Batista e Akyrio, valeu pelos comentários e pela visita ao blog Tosco Todo!
UMA BANDA QUE REPRESENTA MUITO O HP NO brasil.!!!!!!!
Lembro do show energetico e profissional que a banda fez em caico em 2015 e fiquei de queixo caido rsrsrs abracos PH (batera Inquisidores).
Postar um comentário