No dia 12 de outubro, além do dia das Crianças, também é comemorado o dia Nacional do Fanzine. E para celebrar a data, o Blog Tosco Todo preparou uma publicação especial sobre zines e zineiros pelo Brasil.
A palavra ‘fanzine’ nasceu da expressão "fanatic magazine". No Brasil a palavra fanzine se tornou sinônimo de qualquer publicação livre, e o primeiro zine a ser publicado no país foi O Cobra, um manifesto do Órgão Interno da 1.ª Convenção Brasileira de Ficção Científica, realizado em São Paulo, de 12 a 18 de setembro de 1965. Em seguida surge o Ficção (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), fanzine dedicado as histórias em quadrinhos criado por Edson Rontani em 12 de Outubro de 1965 em Piracicaba, em São Paulo. E em 2015, na festa de 50 anos dessa publicação, surgiu a ideia de se comemorar o Dia Nacional do Zine no Brasil.
Capa do fanzine Ficção lançado em outubro de 1965. |
Fui então em busca de alguns amigos envolvidos com o universo dos zines pelo Brasil. Minha primeira curiosidade em relação a qualquer assunto, é como ele entra na vida das pessoas.
Pra saber isso, conversei com Fábio da Silva Barbosa, Renato Lauris Jr., e também com João Francisco Aguiar. Fábio da Silva Barbosa, natural de Niterói-RJ, atualmente mora em Porto Alegre, onde produz o Zine Reboco Caído. Renato Lauris Jr. é professor, mora em Igaraçu do Tietê-SP, e produz, dentre outras publicações, a Revista/Zine Sobrevidas. João Francisco Aguiar também é professor, mora em Serrana-SP e mantém a Zineteca Glauco Villas Boas em Ribeirão Preto-SP.
Pra acabar minha inquietão sobre de onde vem a paixão pelo Zine, Fábio diz; "no início dos anos 90, estava começando a mergulhar nas culturas do submundo, conhecendo o que rolava pelas ruas, esquinas e quebradas em geral. Fui descobrindo que essa cultura alternativa e independente ia muito além da música. Tinham coisas sendo produzidas na área do cinema, teatro, pintura". E acescenta; "É um veículo de comunicação fantástico!".
Fábio Silva - Editor do Zine Reboco Caído. |
João Francisco ficou sabendo da existência dos zines, através de uma matéria de jornal nos anos 90. "Logo me identifiquei com a proposta. Comecei a tocar bateria no PPA e participar de fanzines quase que ao mesmo tempo. Neste mesmo ano, passei a colaborar com o fanzine, “Sindicato do Rock”, capitaneado pelo Ricardo Brasileiro. Escrevi textos sobre política, comportamento,comentários sobre demos e fanzines", disse.
João Francisco Aguiar - Zineteca Glauco Villas Boas |
O interesse de Renato veio nessa "época de trocas de cartas, sem existência de internet e redes sociais, nem pensar em celulares. O interesse por este tipo de publicação surgiu ao conhecer a música punk, que como deve ter acontecido com muitos foi através de fitas K7, que algum amigo ia para a capital (SP) e trazia um som, diferente daquele rock nacional e internacional que ouvíamos nas rádios."
Renato Lauris Jr. - Sobrevidas |
Daí para publicarem os seus primeiros zines foi um pulo. Para João, tudo começou em 2002; "Comecei a cursar Letras. Lá fiz amigos que também gostavam de escrever, entre eles, Leandro Rosa. Falei com ele sobre escrever um fanzine para divulgar não só nossos contos e poemas, mas as produções autorais de amigos e professores. Um fanzine sincero, sem afetações acadêmicas. Mais tarde, juntou-se a nós, Murilo de Paula e o time de editores ficou fechado. Veio ao mundo o Âncora Zine. A repercussão foi boa entre os amigos e alguns professores da faculdade, que apoiaram a ideia e até se propuseram a escrever nos próximos números."
Com Fabio a história não foi diferente; "O primeiro zine que participei foi o do meu amigo Winter Bastos. Era o Terceiro Mundo - O submundo dos ratos. Depois fiz alguns por conta própria. Eram zines esteticamente muito legais. Muita colagem, escritos a mão e a máquina de escrever."
Fábio ainda acrescenta que "a circulação sempre foi principalmente no boca a boca e via correio. Passando de mão em mão. Os amigos curtiam."
Questionado sobre o diferencial do Zine em uma era em que a tecnologia tomou conta do cotidiano das pessoas, Renato frisa que isso "é decorrência de dois fatores: Primeiro o desenvolvimento da criatividade, os fanzines não tem uma regra, um formato único, um padrão. São infinitas suas criações, depende da criatividade e proposta de seu criador/a. Existem micro zines, zines objetos, em impresso A4, A3, A5, dobrado em 3 partes, 4; as temáticas são bem diversificadas, se na sua origem era especificamente a “Revista do Fã”, inicialmente dedicado exclusivamente as histórias de Ficção Cientifica, agora os temas são sobre bandas de rock, MPB, até Sertanejo; times de futebol, ficção cientifica, filmes de terror, política, etc." João concorda, mas tenta apaziguar a relação entre zine digital e tradicional; "Montar um fanzine é uma experiência sensorial que envolve textura,tem cheiro de cola e bagunça sobre a mesa. Diferente de você fazer tudo pelo computador através de comandos no teclado ou arrastando com o mouse (chato, né?). Por outro lado, é legal fazer um fanzine do modo tradicional e depois usar a tecnologia para divulgar o seu trabalho pelas redes sociais. A tecnologia complementou o fanzine de papel. Sem brigas!" Já Fabio toca em um ponto que, segundo ele é o grande diferencial de um zine tradicional para uma publicação digital; "Você pode censurar um blog, controlar uma rede social... Mas um zine você faz cópia em qualquer lojinha, põe em baixo do braço e distribui na clandestinidade sem o menor problema. É subversão pura."
O que se sabe é que o zine ainda é uma ótima ferramenta de divulgação, seja de música, de arte, de literatura ou cinema, inclusive sendo usado de forma pedagógica. Renato vê o zine em sala de aula "como uma brincadeira de papel, cola e tesoura, junto a criatividade no manusear das mãos, hoje, também, tem um grande potencial nas escolas, até mesmo num mundo com tecnologia avançada, as escolas públicas, estaduais, pelo menos em São Paulo segue a linha GLS (Giz, Lousa e Saliva), os zines driblam a ausência tecnológica e deixa livre a capacidade criativa do discente, a criançada curte bastante." Para João, que já trabalhou com zines em penitenciárias, "A arte do papel xerox une as diferenças. Durante a oficina não importa se o aluno está na cadeia, na escola regular, em uma clínica de recuperação de drogados ou em uma escola primária localizada em um assentamento do MST. Em todas essas experiências, a interação deles com a ideia de criar um fanzine foi muito positiva."
E como estamos falando de zines, eu não podia deixar de perguntar:
Quais os melhores zines ainda publicados no Brasil?
E como estamos falando de zines, eu não podia deixar de perguntar:
Quais os melhores zines ainda publicados no Brasil?
Para Fabio, "a quantidade de zines é imensurável. É muito material bom. Tem os zines do Diego, os da Thina... O Aviso Final, que vez por outra tá saindo.... O Art Till Death... O Anormal... O Coletivo Zine... O Pençá, que criei junto com o amigo Eduardo e hoje ele toca sozinho... Realmente não me sinto muito a vontade fazendo este tipo de seleção por estarmos falando de algo que pode ser encontrado em tamanha quantidade e esquecer de citar algum seria uma verdadeira heresia."
João cita "A Falecida, editado por Ângelo Davanço desde 1991, com lançamento marcado nos dias 12 de outubro ( Zineteca Glaucos Villas Boas) e 14 de outubro (Biblioteca Padre Euclides) na cidade de Ribeirão Preto. Arnaldos , zine de quadrinhos produzidos pelos criativos Arnaldo Junior e Arnaldo Neto. Pastel de Pelo, editado pelo jovem e promissor Denis Fioravante. SPELL WORKe CAFÉ ILUSTRADO da ativíssima, Thina Curtis."
Renato acha que antes de falar dos zines, é importante falar "o nome daqueles que seguem nas “barricadas de papel”, produzindo, criando, editando seus fanzines, esses/as guerreiros/as que merecem a grande homenagem neste dia 12 de outubro, dia nacional do fanzine, a galera que não para, que ressurge e segue na empreitada zineira, Thina Curtis (que com A Fanzinada, colabora na divulgação e manutenção deste universos), Márcio Sno (incansável batalhador dos zines, sempre com títulos novos e grande trampo em oficinas de zines), A Forca, Alberto Beralto (que recentemente vem organizando um Fanzineteca no Rio de Janeiro, e realiza um grande projeto zineiro na UFF), Rikardo Chakal (um dos idealizadores do zine Visual Agression e editor do Ruínas Eternas, grandes nomes de papel no underground), Valter Alves (com seus poemas e ideias subversivas expressas nos diversos zines de diversos títulos que elabora), Camila Puni (com suas colagens e mensagens feministas), Robério Matias (com seu pequeno, mas gigante O Velho zine), Solano Gaulda (sua criatividade poética e ilustrativa), Fábio Barbosa (com seu Reboco Caído), Dani Suricato ( com seu Sodanuhka), sem contar uma infinidade de zineiros/as que ressurgem assim como Maria Bonifácio (com seu poezine Sala de Espelhos), Nuna zine (antigo Alerta zine, com novo nome retornando) e tenho visto publicações na rede social do clássico Recifezes, que creio está renascendo também. Fora estes nomes mencionados, há uma infinidade de zineiros/as e títulos que aos poucos vamos conhecendo."
Então pesquise, conheça. Entre no mundo dos Zines!
Tradicional ou digital, como disse o João; "Sem Brigas!"
Leia!
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