quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Entrevista com a banda NARK

O bate papo de hoje é com a galera da banda NARK, de Jaboatão dos Guararapes-PE. Com a proposta sonora definida de se tocar Hardcore punk oitentista, influenciada por bandas como Circle Jerks, Cólera, Agrotóxico e Wasted Youth, a banda é envolvida diretamente em coletivos e atividades que buscam fortalecer o cenário independente em Recife e Região Metropolitana. Acompanhe aí:
NARK
1-NARK é um nome diferente. De onde veio?
Wendell - O nome vem de uma música do Wasted Youth chamada Teenage NARK, e de uma tentativa de assassinato do presidente americano em 81, influenciado pelo filme do Scorsese (Taxi Driver).
A gente tava procurando um nome forte, que fosse diferente. Então veio esse! O termo significa antidroga, mas não somos uma banda straight edge. O sentido de antidroga seria mais de ser contra um clico vicioso, de grupos que propagavam o "pague pra tocar" no underground da época.
Wendell no Vocal e Guitarra.
2-A banda surgiu em 2006 na periferia de Jaboatão dos Guararapes em Pernambuco. Qual era a proposta ao montar o NARK?
Wendell - A proposta pro som era fazer hardcore punk oitentista, com influência da segunda onda punk. O NARK foi minha primeira banda. Então havia todo esse lance de montar um grupo pra poder se expressar, mas que, além disso, pudesse somar algo ao cenário, que instigasse ações coletivas, não fosse ter banda só pra tocar. Pra mim, esse é o principal motivo pra se ter uma banda de hardcore, chega a ser tão ou mais importante do que a própria música.

3-Recife e Região Metropolitana têm nos mostrado uma cena bastante ativa. Pra você, o que tem gerado toda essa movimentação?
Júlio - Pra cena do Recife e Região chegar ao que chegou hoje, foi necessário um esforço de várias partes das mais variadas regiões. Primeiramente, lá pelo ano de 2006, voltamos a nos organizar enquanto coletivos e não como bandas que querem tocar em todos os eventos. Começamos a discutir mais sobre os nossos problemas e aos poucos começamos a organizar eventos mais enxutos e de certa forma mais politizados. A diferença de quando eu comecei (2004) pros dias de hoje, é que em termos gerais as bandas não procuram mais criar subdivisões entre banda-público, criando assim uma interessante brodagem entre a maioria das pessoas. Outro fato importante foi a derradeira união entre punks, hardcores e grinds, que até uns anos atrás era impossível de se imaginar.
Júlio no Baixo.
4-Quais bandas vocês tem ouvido ultimamente?
Júlio - Cumbias Colombianas, Rot, JFA, @patia no, Victor Jara, Pennywise e Mente Podre.
Wendell – Sacando de novo o Circle Jerks (Group Sex), e uma banda de street punk da Indonésia legal pra cacete, a Bunga Meriam!
Raphael - Hoje carrego no celular: Minor Threat, Mark Lanegan, Misfits, Pantera, Slayer, Rancid, Ramones, The Haze, Eu o Declaro meu Inimigo, The Gits, Queens of the Stone Age e Pearl Jam.
Pato - 7 seconds, Mogwai, Facção Central, Pearl Jam, Redska, RVIVR, God is an astrounaut e Circle Jerks.

5-Além da banda, quais outras atividades vocês promovem por aí?
Wendell - Faço parte de um coletivo de cultura de bairro, o M-1, junto com Júlio. A finalidade deste grupo é promover um reconhecimento artístico do bairro de Maranguape 1, agregando artistas da região, das mais variadas formas, que não tem espaço pra se apresentarem no lugar onde moram. Atualmente está em formação uma oficina de arte pra gurizada local, assim, logo mais vão poder expor o que for construído nos eventos do coletivo.
Nós dois também fazemos parte do coletivo HR, com o Pato. O HR é mais voltado pra questão de organização de eventos mesmo, com bandas de hardcore.
Júlio - Participo do Coletivo M-1 e estudo Ciências Sociais.
Raphael - Durmo. E nas horas vagas faço alguma coisa no Mini-Homestudio.
Pato – Passei a participar das reuniões/discussões de um coletivo anarquista daqui recife. Faço parte do Coletivo HR também, como Wendell citou.
Raphael na bateria.
6-O NARK já dividiu o palco com bandas consagradas na cena underground brasileira como Mukeka di Rato, Leptospirose e Discarga. Como foi essa experiência e qual foi o show mais marcante pra vocês?
Júlio - Pra mim a experiência de tocar com essas bandas é a mesma de tocar com as bandas daqui. Me lembro que a galera do Leptospirose, Dance of days e Uzomi são pessoas de primeira qualidade.
Wendell – Esse evento que rolou o Mukeka foi bem interessante, mas mais por causa do clima positivo da época. Foi um período em que alguns coletivos estavam dando os primeiros passos, estávamos começando a nos reconhecer como cena. E lembro que nesse show em questão, tinha muita gente envolvida presente. Foi um semestre bem instigante.

7 -A banda já tem vários materiais gravados. Nos fale um pouco sobre a discografia da banda:
Wendell - Temos duas demos, uma com 4 músicas bem tosco e uma gravação ao vivo que foram distribuídas mais pela net. Acredito que ninguém tenha mais esse material físico, nem nós mesmos! O primeiro registro de fato, rolou com a gravação do Sociedade Assassina (2010). Foi mixado com mais cuidado, pra virar um Cd-R com encarte, show de lançamento bem pensado e tudo mais. No início desse ano a gente gravou uma parada num homestudio de um brother nosso, e essa grava virou um single (Caos Urbano) e um video, que mostra a realidade da mobilidade urbana em Recife (filmado por nós mesmos!).
NARK - Caos Urbano - Clipe
8-Sobreviver no underground é muito complicado. Como os integrantes da banda pagam as contas? Ou já dá pra viver de música?
Júlio - Eu pago minhas contas com bolsa de iniciação cientifica. E viver de música por aqui é impossível, tanto é que os "deuses" da música Pernambucana geralmente vão pedir pinico em São Paulo, morando por lá.
Wendell - Trampo de segunda a sexta, das 7 às 17 hs, dá pra pagar as contas de casa e ficar de boa. Não acho que banda de punk rock dê sustento pra ninguém, e o intuito realmente não é esse! Quem tiver afim montar banda pra isso, desista!
Raphael - Não dá. Só trabalhando.
Pato – Trampo diariamente, como a maioria das pessoas que conheço também o fazem. Nunca tive (nem tenho) a intenção de ganhar grana com o som que toco. Embora acredito que existam outras alternativas pra isso, cabe a cada um buscar da forma que conseguir e do jeito que achar que deve.
Pato na Guitarra.
9-O que a NARK está preparando de novo para a galera? Shows, disco novo vindo por aí?
Júlio - Tem um split com a banda Ugly Boys que vai ser lançado e estamos começando a fazer músicas novas pra renovar o repertório. E quem sabe pode rolar uma tour nordestina pra divulgar esse split, vamos ver.
Pato – Temos focado bastante em fazer sons novos também, acho que temos uns 4 sons já adiantados (chamemos assim). Existe a forte possibilidade de lançarmos algum material novo ano que vem.
Baixar "Caos Urbano" - Mais recente trabalho do NARK.
10-Obrigado pela atenção e se tiver algo a dizer, que não foi perguntado até aqui, o espaço é de vocês:
Wendell – Agradeço muito o espaço que você concedeu. Acredito que entrevistas para bandas do mainstream só servem pra elas “aparecerem”, mostrarem o quanto são cool. Mas no underground, é uma maneira de poder passar uma idéia maior sobre a banda, além das músicas. Admiro muito essa iniciativa e toda a resistência aí em Vitória da Conquista!
Júlio - Valeu Nem. Sorte ao blog, a banda e a vida. Estamos esperando o Cama de Jornal por aqui.
Raphael - Pato, gato! =*
Pato – Agradeço o espaço no blog e pelo convite da entrevista. Espero que cada vez mais as bandas e os indivíduos (principalmente) tenham razões pelas quais lutarem todos os dias e força pra se posicionarem, se organizarem e se manifestarem... Sejam através de bandas independentes, coletivos, blogs, etc. Não importa, apenas o façam. Aproximadamente a 8 anos atrás me foi dito “Tente mudar o amanhã!”, e isso tem repercutido na minha cabeça desde então. Tenho plena convicção de que nada disso tem sido em vão, e espero que de uma forma ou de outra isso tudo sirva de inspiração (ainda que bem pouco) pra alguém. Abraços e força sempre.

Discografia:
NARK – demo (2007) NARK – ao vivo no F6 (2009)
NARK – Sociedade assassina (2010)
NARK – Caos Urbano (2012)

Formação atual:
Wendell - Vocal/Guitarra
Júlio - Baixo
Pato - Guitarra
Raphael - Bateria

Endereços / Contatos:
www.facebook.com/narkpunkrock
www.narkoficial.bandcamp.com
www.youtube.com/canalnark

81 8558-8606 (Pato)
81 9633-1340 (Wendell)
81 8518-4537 (Júlio)

Nenhum comentário: