segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entrevista com a banda Pastel de Miolos

O papo de hoje é com a galera da banda Pastel de Miolos, da cidade de Lauro de Freitas-Ba. Conversei com o Alisson, mas o Wilson também compareceu nas conversas, e foi bacana poder conhecer um pouco mais sobre essa banda que já está na estrada há 18 anos, fazendo seu punk rock onde quer que seja!!!!
Com vocês: Pastel de Miolos!!!
Alisson, guitarrista e vocalista da Pastel de Miolos.
1-A banda completou 18 anos de luta pelo underground. Como é a sensação de "maioridade"? É aquela sensação do "tudo posso agora" que os adolescentes sentem ao completar 18?
ALISSON: A sensação é de poder fazer mais e não de poder fazer tudo! Estamos mais organizados, mais ousados e com mais sede de experiências, ao mesmo tempo em que, estamos mais cansados e impacientes. A banda está fazendo dezoito, mas nós já estamos todos quase na casa dos quarenta então o gás é outro que ainda precisamos entender. Os ideais são os mesmos do início, mas as idéias são outras!
Pastel de Miolos: André no baixo, Wilson na bateria e Alisson na guitarra e voz.
2-E olhando pra trás, lá no começo. Como foi que resolveram que iam montar uma banda de punk rock? Como era a cena naquela época? Foram os ensaios do "Quartinho", que gerou as primeiras gravações, né?
ALISSON: No início éramos Eu e Wilson. Wilson já tinha experiência na cena Grind/HC e eu nem tinha idéia do que estava me metendo. Convidei ele pra tocar num festival com outros dois amigos, seria uma música só e nós ensaiamos e tocamos, ficando em último colocados na premiação. Os outros dois amigos saíram, pois tinham outros interesses e nós ficávamos ensaiando no “quartinho” o domingo todo que dava. Quando acabava o barulho Wilson pegava uma sacola e enchia de sons pra que eu escutasse em vinil e cassete. Coisas como Dead Kennedys, Extreme Noise Terror, Varukers, Patareni, Napalm Death, Olho Seco, Cólera e outros que eu levava para casa e ficava escutando a semana inteira até o outro domingo. Pra mim foi natural assimilar aquela sonoridade e idéias e começar a fazer as primeiras músicas da PDM. Tocamos com várias pessoas até que um ano depois Alex chegou pra dar “uma força” e nisso ficou durante 17 anos. Fomos fazendo os primeiros shows e ampliando o repertório, nessa época a coisa tinha certo tom de humor/ironia nas letras e tudo era muito tosco!
Primeira gravação de ensaio no quartinho, que não foi lançado oficialmente.
3-Em 1996 vocês lançaram a "Pastel De Miolos-Demo Tape #1" que trás vários clássicos que estão no repertório da banda até hoje. Como foi a produção dessa fita K7? Foi bem distribuída?
ALISSON: Incrivelmente essa demo já apresenta uma segunda fornada do repertório da PDM. Sendo que nela já aparecem as músicas de Alex e outras minhas, havendo músicas de um primeiro momento anterior que nunca viram a luz do dia e se perderam no tempo. A produção foi simplesmente tudo ao vivo e ao mesmo tempo representando exatamente nossa tosqueira da época. Sobre distribuição Wilson sabe dizer melhor do que eu, mas eu sei que passaram de mil fitinhas pra todo canto do país e algumas pra fora!
WILSON – Como Alisson disse, realmente essa fitinha foi bem distribuída, mandamos para todos os canais de divulgação especializados em Rock, e foi bem falada pelo Brasil.
Wilson, dono das baquetas da Pastel de Miolos.
Baixe aqui a "Demo Tape #1"
4-Em 1997 veio mais uma Demo tape chamada "Tudo isso por nada!". Estavam bem inquietos, pois em 2 anos lançaram duas demos. Qual era o motivo dessa inquietação?
ALISSON: O motivo da inquietação era a vontade de nos expressarmos e participar de uma cena! Essa demo já apresenta um amadurecimento nas letras e sons. Com músicas mais rápidas e bem tocadas pro padrão da época. Ela nos abriu as portas para vários festivais locais como o Garage Rock, Palco do Rock entre outros.
WILSON - Falando sobre a distribuição dessa demo tape, essa foi a demo que mais divulgamos, foram mais de 1.500 cópias distribuídas (sempre que vendíamos 1 demo, comprávamos mais 2 fitas), dessa forma, proporcionou uma larga distribuição em todo Brasil e no Exterior também. Mas, creio que cerca de 10 mil pessoas tiveram acesso a essa demo tape, falo isso, porque, sempre que mandávamos uma fitinha para algum correspondente, junto eu mandava mais 10 capas, e na época, tínhamos a cultura de copiar (seria o compartilhamento de hoje em dia) as fitinhas que chegavam em nossas mãos, e sempre gravávamos do outro da fita, uma banda camarada, por isso, afirmo que mais de 10 mil pessoas tiveram acesso ao nosso som, por meio dessa demo tape.
5-E depois de alguns anos produzindo outras demos, participando de coletâneas, finalmente sai em 2001 o primeiro CD "Industria da seca". Como foi a produção desse disco? Tinha vários sons que eram das demos anteriores. Elas foram regravadas?
ALISSON: Bem, existiu a proposta de ser gravada um CD coletânea com bandas punks/HC da época como Injúria, Bosta Rala, Boys do Subterrâneo, No Deal, Porcos Falantes, PDM e outras, mas o que aconteceu é que nunca se conseguiu organizar as bandas pelos motivos mais diversos possíveis. E no final Rogério Big Bross chegou pra gente e disse que tinha aquele período no estúdio (Estúdio ZERO) e se nós queríamos usar. Nós entramos com o repertório dos shows da época e tentamos gravar tudo que tínhamos, velhas e novas, daí entrou o que o tempo deixou.
Baixe aqui o CD Indústria da Seca-2001.
6-Já em 2007 a Pastel de Miolos lança o EP Ruas. Esse material seguia a mesma linha dos primeiros trampos?
ALISSON: Nesses 6 anos que separam as duas gravações aconteceu a entrada e saída de Robson que tocava a segunda guitarra e depois uma queda muito grande nas atividades da banda, um certo desanimo e outros projetos. Pensamos e dar um fim em tudo aí um dia eu cheguei com a música “Ruas” praticamente pronta e os caras gostaram, nós gravamos no celular e ficamos escutando aquela tosqueira. E a música era muito boa e diferente do que nós fazíamos até então foi quando resolvemos voltar a compor e nos dedicar a PDM com mais intensidade. A sonoridade que sempre foi mais HC tinha entrado naturalmente numa pegada mais punk rock. Eu comecei a tentar “cantar” de uma forma mais compreensível. Alguns perceberam a diferença e se afastaram enquanto que outras pessoas passaram a gostar ainda mais do nosso som. Com todo esse material novo composto e revisitado resolvemos que faríamos uma gravação que representasse bem o material que nós tínhamos onde quer que ele fosse apresentado. Por que até aí nós não tínhamos nenhuma gravação de qualidade, então buscamos Jera Cravo que na época já tinha uma experiência imensa com bandas de som pesado e conseguiu colocar no EP o som do jeito que queríamos.
Baixe aqui o EP Ruas-2007.
7-E em 2010 a banda apresenta o CD "Da Escravidão Ao Salário Mínimo". Nesse disco também tinha algumas regravações? Como foi o trabalho com o produtor Jera Cravo? Ele tinha a liberdade de interferir/alterar algo no som de vocês durante a gravação?
ALISSON: Inicialmente iríamos gravar só músicas novas, mas pensamos: “Quando vamos ter a oportunidade de gravar essas músicas de novo com essa qualidade de som? Vamos gravar a velhas também!” e gravamos, mas você pode perceber que elas todas foram executadas de um jeito diferente do que tinha sido gravada anteriormente. Rapaz, Jera é um cara que entende tudo de gravação, já tinha muita experiência, então seria burrice não deixar que ele opinasse e sinceramente eu gostei muito mais das vezes em que ele disse: Não! Do que das vezes em que ele disse: Sim! Porque o estúdio tem recursos quase ilimitados e ele ficava me lembrando de que nós éramos um Power-trio tocando punk rock. Por que com tempo e criatividade eu teria gravado mais umas dez guitarras em cada música. Mas ele sabiamente soube me conter e oferecer possibilidades que só enriqueceu nosso som! Melhorou a apresentação do que iria pro CD ao mesmo tempo em que manteve a integridade deixando o som sujo como queríamos mas ao mesmo tempo compreensível e pesado.
WILSON – Tem um lance interessante que deve ser falado, de 2007 a 2009 nós gravamos 2 sessões com Jera Cravo, essas sessões, renderam 3 discos, que é a “trilogia – RUAS (2007), CIRANDA (2009) E DA ESCRAVIDÃO... (2010) - 1 Single – NOVA UTOPIA e o Video Clipe da música “Olho Torto”. O CD Ciranda, foi eleito pelo Site “El Cabong” e pelo programa de Rádio RADIOCA, o 4º melhor disco baiano do ano de 2009. O clipe entrou na programação da MTV Brasil, VH1 e em vários canais de TV via Web pelo Brasil e mundo e o CD “Da Ecravidão...” foi muito bem resenhado nas principais Revistas, Blog’s e Sites especializados.
Ouça aqui.
8-A Pastel De Miolos também já lançou vários materiais de forma virtual. Qual a importância da internet na divulgação da banda? Isso interfere nas vendas de CDs em shows?
ALISSON: Já há alguns anos a internet é o principal meio de divulgação, mas nós ainda usamos muita carta e ainda vamos a shows conhecer bandas novas e trocar material. A venda de CDs nos shows é flutuante tendo shows em que vendemos muito CD e camisa e outros que não sai nada! Quando lançamos só virtual tem uma história interessante de um cara que pediu o material e eu lhe dei um fly com o link pra ele baixar o CD com capa e encarte e tudo por que realmente nós não tínhamos feito nenhum físico e o cara se ofendeu, amassou o fly e jogou no chão. Alguns meses depois eu encontro o mesmo cara em outro som e ele me pergunta do CD e eu lhe disse: 5 reais. E Ele: pow véio, contribua com a cena, me dê um aí na moral! Eu lhe disse: 5 reais. E Ele: Mas eu não tenho. Eu peguei e o fly e lhe mostrei dizendo: Baixa da internet, lá tá de graça! Ele não quis o fly e saiu, aí você percebe o que aparece muito por aí dizendo que é a “cena”. Será que é uma cena de sanguessugas? Você se fode pra fazer um trampo de qualidade, dá de graça e o cara não quer, quando você bota pra vender ele quer que você dê pra ele! Entenda isso!
Baixe aqui: Ciranda-CD Virtual de 2009.
9-Vocês tem conseguido uma circulação bacana durante todo esse tempo, tendo tocado em vários lugares que um banda punk rock normalmente não tocaria. Como sobreviver fazendo punk rock na Bahia? Existe uma cena? Ou a saída é tocar onde for chamado?
ALISSON: Circulação é isso, você apresenta uma gravação legal e procura o contato de pessoas que como você estão também correndo atrás, além óbvio de mandar material pros festivais. Com insistência e disponibilidade as coisas acabam rolando. O lance de tocar em vários lugares onde uma banda punk não toca é a necessidade de mostrar o som para uma quantidade maior de pessoas, senão você só vai ficar tocando pros seus amigos e eles vão sempre dizer que o som é de fuder e você acaba não ousando! Você acredita que eu conheço bandas punks e de outros estilos que chegam no lugar com a sua galerinha, toca e logo em seguida vai embora levando todo mundo? E as outras bandas? Essas não merecem nem o benefício da dúvida? É assim que funciona pra muita gente que diz que está contribuindo para o crescimento da “cena”. Sobreviver tocando punk rock na Bahia não é uma opção, você vai cuidar de sua vida, de fazer seus corres, seus trampos e se organizar pra tocar onde der e viajar pra outros lugares para tocar também. Eu não acredito numa cena punk/rock de verdade! Acredito que existem pessoas que fazem por conta própria e vão se ferrando também, fazendo porque gostam de montar shows e de trazer bandas pra suas cidades e tocar junto. E aí o público vai, ou não e toma seu prejuízo! Eu sei que existe uma cena em Camaçari, as bandas são organizadas, acontecem eventos todo final de semana com o público sempre presente, porque independente das bandas que você curte a sua presença ali e nos outros eventos, pagando ingresso, adquirindo material das bandas, conhecendo gente, articulando formas de fazer outros eventos fortalece realmente a cena. E eu não vejo isso em outras cidades da Bahia, mas também eu não tenho como estar ciente de tudo que acontece em todas as cidades. Acredito que Feira e Paulo Afonso estão se organizando nesse sentido. Sei de uma movimentação legal em Ilhéus, e em Vitória da Conquista tem vocês e mais uma galera fazendo a correria. Então eu vejo em cada cidade cenas que existem e que as que dizem que existem. Em Salvador eu vejo núcleos isolados, como se várias cidades convivessem de forma confusa dentro da própria cidade. No Subúrbio tem uma movimentação, na periferia já outra onda, na região da orla também, basicamente todo mundo se conhece mas não aparecem nos shows uns dos outros e não se organizam conjuntamente. Se não disputam também não colaboram! E aí fica fraco!!!! Nós já tocamos em todo tipo de lugar, livraria, teatro, palco gigante, fundo de quintal, pista de skate, passarela de desfile de moda, cozinha, casa abandonada, shopping, o importante é levar a mensagem ao maior número de pessoas possíveis!!!!!
10-E agora, quais os novos projetos da Pastel De Miolos?
ALISSON: Agora com o baixista novo (André Cunha) nosso projeto é gravar um CD só com músicas novas que já estamos apresentando nos shows com ótima recepção do público. Nesses sons novos apresentamos uma sonoridade ainda mais consistente com muitos riffs, onde os punk rocks, os hardcores e as passagens crossover/thrash estão mais distintas. Depois da entrada de André nós já lançamos um CD Bootleg ao vivo gravado num show em Feira de Santana que tem músicas novas e antigas e está disponível pra download. Além de uma brincadeira que virou coisa séria que é o Tributo a Pastel de Miolos que começou com umas bandas de amigos que se propuseram a gravar umas músicas nossas e botar num CD virtual e hoje já temos na lista das que gravaram bandas diversas e importantes como Lobotomia, Vivendo do ócio, Norfist, Cama de Jornal, Reverendo T, Jason, Evandro Lisboa, Riiva (Finlândia), KarneKrua+Snooze, Leptospirose, Irmão Carlos, Vandex, Zefirina Bomba entre outras. Nos planos estão uma tour subindo o nordeste em lugares onde não havíamos tocado antes e ainda no primeiro semestre tocar no sudeste.
11-Em uma conversa que tive com você durante um show aí em Salvador, você me falou que sai de casa pra tocar e fala com sua filha que "papai vai ali salvar o mundo". Ainda é possível mudar essa sociedade? Você ainda acredita em um mundo melhor para sua filha?
ALISSON: É difícil! Mas eu tenho que acreditar e hoje cada vez mais!!! Eu digo que vou ali salvar o mundo quando vou tocar e também quando vou trabalhar. Eu sou professor e poderia trabalhar dois turnos em escola particular ou estar buscando dar aulas em universidades, mas eu faço questão de trabalhar na rede pública de ensino onde pego os três turnos e trabalho com o filho do pobre!!! São essas crianças e adolescentes que precisam de ajuda, se são héteros, homossexuais, tem diversos tons de pele e problemas sociais, isso é o menos importante! E sim, eles precisam ter oportunidades de levantar a auto-estima e conhecer a artimanhas que o sistema usa pra estigmatizá-los e excluí-los. Então quando saio pro trabalho ou pra tocar, eu acredito que estou dando minha colaboração para que as pessoas possam ser melhores do que acreditam possível, por isso as letras da PDM possuem um conteúdo voltado pro questionamento não só do contexto social, mas também buscam levar a reflexão e auto-analise. Você pode ser um canalha radical irresponsável e estragar a vida de seu filho ou abrir mão de algumas convicções pra que aquela criança possa ter possibilidade de se realizar e realizar ações transformadoras dentro da sociedade. São opções, a segunda é a mais difícil!
PDM ao vivo no Festival Palco do Rock-Salvador-Ba.
12-Velho, obrigado pela atenção. Fico feliz quando vejo bandas tocando tanto tempo pelo underground, sem perder o foco nem a coerência!! O espaço agora é de vocês, para deixar contatos, e o mais que quiser!!!!
ALISSON: Analise, reflita, busque sempre suas respostas! Leia mais livros e veja menos televisão! Nunca se deixe levar pela manada! Não se engane você não é livre! Crie sua revolução!
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