sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Entrevista com a banda Tuna

A entrevista da vez é com a banda paulista Tuna, e o papo foi com o Josimas, o Paulo e a Andreza. acompanhe aí:
Tuna em ação: Josimas (baixo), Renato (batera), Andreza (vocal) e Paulo (Guitarra)
1-Alguns de vocês já estão há muito tempo na cena underground, já passaram por várias bandas...o que os motivou a montar o Tuna e quando foi isso?
Tuna- O Josimas está há uns 25 anos vivendo isso, sim é bastante tempo... O Tuna surgiu de uma conversa entre o Josimas e o Paulo sobre montar uma banda punk rock, política mas sem alguns dos clichés punks que já existem. Música dançante, inspiradora, falando como sentimos as coisas...A banda existe mais ou menos desde 2009.

2-E de onde veio esse nome?
Tuna- Esse nome foi sugerido pelo Paulo e significa “jovens, vagabundos, músicos, que saem pelo mundo organizando concertos, tocando”.
Tuna vagabundando por aí!!!
3-A banda lançou o LP, “O mudo mundo com a nossa voz” recentemente. Porque escolheram esse formato?
Tuna- Quando pensamos em gravar nossas musicas , começamos a analisar os formatos existentes de mídia, não foi algo que fomos fazendo sem uma boa conversa. Não queríamos o mais fácil e sim o que mais nos agradasse e que melhor funcionasse. Assim, resolvemos fazer em LP, vinil, para as pessoas ouvirem em casa, com a melhor qualidade possível, pegar a capa, olhar os detalhes do desenho, ler as letras, ter algo palpável realmente em mãos. O LP proporciona isso, alem de ser analógico, sem simulação digital de freqüências, é uma mídia que o punk/faça você mesmo manteve utilizando desde o surgimento do punk.
Capa do LP "O mudo mundo com a nossa voz"
4-Mas o disco tambem foi disponibilizado por vcs para download. Isso é bom pra galera já ir conhecendo o som nos shows, não é verdade?
Tuna- Sim, resolvemos disponibilizar nosso disco para download pelo nosso site, com capa, encarte e as 7 musicas do disco com boa qualidade. Muitas pessoas que não tem toca discos ou que tem players de mp3 portateis tem acesso ao disco gratuitamente. Quando chegamos em alguns shows e as pessoas estão cantando nossas musicas sempre perguntamos como ela conheceu a banda e nos respondem que baixaram pelo nosso site. Isso, é claro , em lugares que a nossa distribuição de vinil ainda não teve alcance. Duas pessoas da banda mantem uma distribuidora de lps, livros, zines, chamada No gods No masters – www.nogods-nomasters.com – que é quem distribui os discos do Tuna e a distribuição tem sido bem legal. Hoje poucas pessoas que compram cds, o cd se tornou finalmente o que surgiu para ser, algo descartavel. As pessoas quando compram cds copiam para o computador ou mp3 e deixa o cd jogado nuam gaveta, numa prateleira alem de ter uma vida util muito curta, os cds estragam muito rapido.

5-O Tuna já teve a chance de tocar fora do Brasil. Onde foram esses shows e qual a receptividade do público?
Tuna- Sim, fomos a Europa em 2011 para 29 shows, nadar em lagos lindíssimos, encontrar amigos, falar sobre o punk no Brasil, ver bandas, buscar inspiração, nos auto conhecer. A banda tinha feito poucos shows no brasil quando surgiu essa idéia de irmos para o outro lado do mundo, nosso baterista tinha morrido 6 meses antes da viagem, gravamos um disco e caímos na estrada. Foram 12 países, 28 cidades diferentes no melhor estilo faça você mesmo, viajando de van, cidade após cidade, com o apoio da rede punk que existe na Europa, tocando em squats, centro sociais, conhecendo um pouco mais do punk pelo mundo. Pelo fato da banda ser nova, a maioria das pessoas não nos conheciam mas fizemos bons shows, muita gente comprou nossos discos, camisetas e hoje temos bons contatos por lá.

6-Quais as principais diferenças entre a cena brasileira e a européia, por exemplo?
Tuna- Acho que a principal diferença é o tempo e a história do Brasil. O punk surgiu no Brasil em plena ditadura militar, o punk teve um período que lutou muito para conseguir fazer shows, manifestações, eventos em geral mas a repressão foi algo brutal neste período, era comum punks apanharem da policia todos os dias e isso realmente faz com que não houvesse um crescimento forte no começo dos anos 80 e sim , uma resistência. Em alguns paises europeus e nos EUA o punk nasceu e foi crescendo, construindo uma cena que hoje se organiza em rede, com estrutura para diversas coisas ligadas ao punk, tours, jornais, livros, zines, filmes, manifestações, ação direta... Há também uma mentalidade muito voltada para se apoiar as iniciativas faça você mesmo, as pessoas compram discos, livros, pagam entrada nos shows, nas mostras de cinema,nas feiras anarquistas, as pessoas vivem o punk, o anarquismo cotidianamente.
Equipamentos e materiais no fundo da van pronto pra cair na estrada.
7-Voces fizeram uma turnê pelo Brasil recentemente. Como foram os shows?
Tuna- Quando estávamos na Europa, viajando, tocando, pensávamos em como seria fazer algo parecido aqui no Brasil e voltamos pensando muito em como construir essa realidade. Começamos a compor esta idéia ainda no ano passado, 2011 mas não conseguimos devido ao curto tempo e já começamos a planejar isso para julho de 2012, contactar as pessoas que poderiam organizar shows e alguns bate papos, sobre saúde da mulher, punk e faça você mesmo, libertação animal e fomos analisando como construir essa tour, quanto precisaríamos para custear a tour e como conseguir esse valor, passado isso fomos organizando cada show sempre em contato com cada pessoas em cada cidade, tudo de forma horizontal e feito por todos envolvidos na tour e nos shows, sem intermediários, sem representantes e cada show foi único, em alguns lugares as pessoas cantavam todas as musicas em outros o calor carinhoso e também verdadeiro nos recebeu de braços abertos, nos fazendo sentir em casa, isso é algo que indicamos para todas as bandas faça você mesmo no Brasil. Não é fácil mas nada nesta vida é fácil e cabe a nós decidir o que nos dá mais prazer, satisfação, cabe a nós decidir o que queremos com nossas vidas.
8-Vocês buscam fazer um som politizado, mas sem ser agressivo, fazendo um "punk rock sensual" como vocês mesmos dizem. Como tem sido a reação dos punks das antigas ao ver o show de vocês?
Tuna- As vezes tem sido engraçada a reação pois tocamos um punk rock que não é comunmente tocado pelos punks no Brasil e não tem os clichés nas letras mas a maioria acha bastante criativo. Sempre tem sido uma boa experiência. De modo geral podemos dizer que a Tuna é uma banda com sorte. Além de já termos realizado coisas bem legais, a aceitação é muito boa de modo geral: novxs e velhxs curtem bastante o som. Não saberia dividir isso em faixa etária.
9-E depois de tocar em algumas cidades, começaram a ter problemas com o carro de vocês. Qual a sensação quando viram que não dava pra terminar a turnê?
Tuna- A gente teve problema com o carro logo no começo da tour. Tinhamos acabado de comprar o carro e fizemos uma revisão geral nele antes da tour, mas como não tinhamos andando com o carro antes, só viajando, não conheciamos os seus problemas e o que realmente precisava arrumar. Por isso que acabamos passando por alguns emprevistos na estrada. No começo da tour perdemos o show de vila velha. Ficamos muito tristes, mas estávamos dispostos a arrumar o carro e continuar a tour. Durante as viagens dentro do Nordeste tivemos outros problemas com o carro, mas nenhum desses problemas fez a gente perder shows. Somente quando estávamos indo em direção ao Centro oeste que o problema foi um pouco mais grave e levariamos muito mais tempo para arrumar o carro. Claro que o prato principal da sensação era frustração e pena, mas isso foi temperado com muitos outros sentimentos, alguns bons, como a sensação de que, se estavamos dando a coisa por encerrada naquele ponto, nao foi por falta de tentativas, afinco e até um pouco de teimosia para realizar todos os shows. Os fatos simplesmente ficaram além de nossas possibilidades. Então, apesar de ter sido bem chato, culpa nao é um sentimento presente nas nossas panelas cardíacas. Temos a ideia de fazer esses shows no Centro Oeste logo. Vamos arrumar o carro, dar um tempo para nos organizarmos e planejar essa tour por lá.
Tentando dá um jeito no carro pra seguir, mas não deu...
E terminaram tendo que voltar no reboque.
10- Após as viagens, sempre ficam as histórias. Tem alguma que não vão se esquecer tão cedo?
Tuna- Nao vamos esquecer de muitas, mas principalmente não vamos esquecer das grandes pessoas que encontramos e reencontramos em cada lugar em que estivemos. Ter repartido tempo e ideias com todxs foi a grande historia.
Tuna com a galera em Fortaleza, durante a turnê no Nordeste.

11-Quais os planos agora? Disco novo, continuar a turnê...o que a galera pode esperar do Tuna ainda em 2012?
Tuna- 2012 tá quase acabando... mas esperamos que dê tempo de fazer mais algumas coisas. A proxima preocupação da gente é ensaiar e compor músicas novas... tem algumas já nas fases finais e outras ainda por nascer. Esperamos que até o fim do ano tenhamos material suficiente para pensar num novo disco. para isso precisaremos diminuir um pouco o ritmo de shows e passar mais tempo trancados ensaiando. Nesse meio tempo vão surgindo outras ideias tambem e, claro, planos de tours vão aparecer também. Fora isso, estamos devendo editar os videos feitos nas duas turnes, a europeia e a brasileira. Vamos ver se rola...
12-Muito obrigado pela atenção e fico feliz quando vejo bandas como o Tuna, que ainda acreditam que é possível ser punk rock, autônomo e se divertir com tudo isso!!! O espaço é de vocês:
Tuna- Obrigada pelo espaço. E que aqui no Brasil essa cena punk faca voce mesmo cresça a cada dia para podermos construir algo forte e estruturado por todos os cantos desse país.
Saude e faça você mesmo.
Conheça mais um pouco sobre a banda, e baixe o LP:

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