Nem Tosco Todo lança seu terceiro livro, intitulado "Diálogos Imaginários e Outros Escritos". Com préfácio de Nélio Silzantov, que escreveu:
"Finalmente aqui estamos, mais do que vivos,conforme afirmamos na obra anterior de Nem Tosco Todo, desta vez diante dos seus Diálogos Imaginários e outros escritos. Obra composta por vinte e dois diálogos, seis contos e vinte e três ilustrações fodásticas assinadas por JoJu.
Ao demonstrar, mais uma vez, toda sua criatividade em construir diálogos, Nem se afirma como um dos poucos escritores contemporâneos que dominam este elemento narrativo. Parece até um absurdo dizer isso (alguém pode espernear), mas se engana quem pensa que elaborar diálogos precisos, inteligentes, bem-humorados e críticos, como os criados por Nem, é algo assim tão fácil e comum entre os ficcionistas. Na Grécia Antiga, Platão foi um dos primeiros a se sagrar no exercício dessa técnica considerada uma arte, criando os famosos diálogos socráticos.
No século XVIII, em pleno período Iluminista, o filósofo e escritor francês Denis Diderot foi outro que utilizou a forma para compor O Sobrinho de Rameau, uma crítica radical e satírica à sociedade que fascinou grandes pensadores como Goethe, Hegel, Engels e Freud.
Mas ao contrário dos exemplos anteriores e tantos outros encontrados na História da Literatura, os Diálogos Imaginários de Nem vão direto ao ponto, sem rodeios ou delongas em assuntos que até poderiam se arrastar por horas e horas numa mesa de bar. Trata-se do bom e “velho” DNA Punk na veia (ou na impressão do papel, se preferirem), com suas letras/falas corrosivas e debochadas.
Indo além dos próprios diálogos narrativos, as ilustrações de JoJu complementam a obra, uma troca de ideias entre gêneros literários que, inclusive, põe na roda uma provocação sobre ilustração da capa, produzida por uma Inteligência Artificial.
Questionou-se sobre isso? Não se questionou? Imagine, experimente, se arrisque! Por que diabos utilizar dois estilos?
Há também os Outros escritos, conjunto de seis narrativas igualmente breves, um aperitivo para aqueles que duvidam da sua capacidade de contar uma boa história sem explorar tanto os diálogos (coisa que Nem não precisa provar para ninguém). E se nos diálogos encontramos uma bela homenagem em “Com meu pai”, o conto “Mulher acolhedora” presta uma tocante homenagem às mães vitimadas pelo coronavírus.
Aqui, em Diálogos Imaginários e outros escritos, somos todos nós, leitoras e leitores, mais um personagem esbarrando com Tosco Todo em alguma esquina, no ônibus, num show, no boteco do Vitão, ao telefone ou mesmo numa troca de mensagens pela internet. Quiçá realmente esteja aqui... espia só, vai que... e divirta-se!"
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Nem e Nélio Silzantov |
O livro teve uma resenha feita pelo escritor português, radicado em Vitória da Conquista, Luís Altério, da Editora Nzamba. Segue abaixo;
“Diálogos imaginários e outros escritos” de Nem Tosco Todo.
Posso afirmar que este livro é um dos mais originais que li, dos escritores da cidade, quiçá do mundo, pecando o próprio mundo ainda desconhecer este pequeno mas Belo Livro. Li-o numa manhã de sábado, só desgostando de o ter terminado tão rápido (pequeno volume).
A escrita em mãos é de uma simplicidade – diálogos concisos e enxutos – e de um realismo avesso a floreados barrocos e adjetivos chatos, que louvo e admiro. O nosso prosador é dos escritores desta envergadura de escrever o essencial, aliás, veia que tendo a seguir também nos meus escritos....
A escrita em mãos, portanto, não se subjuga ao mundo voraz do nosso século de Trampas de Melenas à Cuspe Javardo dos “states” e de Capitães de cloroquina cá do burgo e, ainda, de esquerdas amorfas e desnorteadas deste mundo carburado a Grande Capital....
Lendo aqueles pequenos diálogos, com estilo próprio, remete ao enfrentamento contra o mundo com altivez solitária como poucos... Lembra Iceberg Slim, John Fante e outros, e nos dias de hoje, Diego Morais ( de Manaus) por exemplo, como se a Dignidade fosse o reduto a ser inegociável, e, se preciso for, ser salva pela própria vida, para não ser somente mais um a lamber as botas frias e cínicas da Elite-Podre:
“ – Fala, Nem!
- Opa, na paz!
- Beleza. Rapaz, tem uma pergunta que queria te fazer.
- Fala aí.
- Quem é o personagem que você interpreta? É Nem Tosco Todo, ou você como cidadão comum?
- Eu faço o personagem do cidadão comum. Aquele que acorda cedo, vai trabalhar, bate ponto. Nem Todo Tosco sou eu real.
- Tipo uma dupla personalidade?
- Mais ou menos.
- E como você consegue administrar isso?
-Não consigo, é impossível!
- Ué, aí é contraditório.
- A vida é uma eterna contradição.
- Ah, legal.
- Não, isso não é legal!”
Com este diálogo, consegue encerrar toda a Filosofia sistematizada dos gregos até aos dias de hoje.... Com um simples diálogo, o escritor fez a proeza de ser um filósofo profundo, com toda aquela bagagem de cantor punk, de cidadão trabalhador, de marido e pai de uma menina encantadora: Herói como poucos! Por isso, Nem Tosco Todo tem toda a minha admiração!
Para terminar, uma lufada de Ar Fresco na Literatura contemporânea! Livre e mordaz, um livro feliz e encantador, na senda de “vagando por aí”, podermos ser ─ nós, leitores ─ livres e orgulhosos de vivermos um dia de cada vez, tal como Nem! Um acontecimento!"
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Luís Altério e Nem |
Outra amiga escritora, Juliana Sbrito, da Biblioteca Comunitária Donaraça, escreveu a respeito do livro de Nem;
"Levando um livro para passear
Mal saiu da mesa de lançamento, o livro "Diálogos imaginários e outros escritos", de Emanuel Moraes @nemtoscotodo (Editora Dando a Letra) já está no acervo da Biblioteca Comunitária Donaraça.
Com ilustrações de @jonjulio94 e prefácio de @neliosilzantov, o livro é um convite para uma pausa, parar tudo e mergulhar em seus diálogos diretos e sem enrolação. Nas palavras de Nélio:
"Se engana quem pensa que elaborar diálogos precisos, inteligentes, bem humorados e críticos, como os criados por Nem, é algo assim tão fácil e comum entre os ficcionistas".
Autores como Nem tornam a leitura hipnótica, pois não é possível começar e abandonar a obra sem ter concluído o mais rápido possível. Não se quer apenas ler, mas conhecer e também conversar com seus personagens e o próprio autor.
O mesmo acontece com as músicas da banda punk rock Cama de Jornal. É o que todos nós gostaríamos de dizer/cantar.
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Ilustração da contracapa por JoJu. Foto por Juliana Sbrito |
João Júlio, o JoJu, tem um traço único, personagens e contexto em movimento, vivos de uma maneira peculiar; envoltos por uma "poeira" que não está ali por acaso. Para saber do que estou falando, acompanhe o artista. Ele some de vez em quando, mas deixa suas provocações por aí.
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Nem e JoJu |
Preciso registrar também o belo trabalho gráfico de todos os livros de Nem, pois ele pensa o livro em sua totalidade. Fotógrafo, cantor e escritor independente, ele compreende que o trabalho e olhar coletivo enriquecem e ampliam a experiência estética. Nesse quesito, @thiagosuitem, do @estudioimbore, é parceiro constante. Contribuindo no livro com o projeto gráfico, editorial, capa e diagramação.
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Nem e Thiago Suíten do Estudio Imboré |
Até a Inteligência Artificial teve a sorte de receber indicações de como deveria ser a capa. Nem não tem medo e subverte as (des)razões de tudo e enfrenta a vida de forma punk.
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Foto por Juliana Sbrito |
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Agradecemos a generosidade de Nem, sempre atento ao movimento da Donaraça.
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Também estão disponíveis na biblioteca Donaraça os outros livros publicados pelo autor (Selo Tosco Todo):
Vagando por aí (2019)
Estamos mais do que vivos (2023)"
Juliana Sbrito
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Joju, Juliana, Nem e o escritor Josué Brito |
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